Sunday, April 08, 2007

As responsabilidades da crise do país!...

“Além disso, noto que esta capacidade de imaginar que está em mim, enquanto difere da de conceber não é requerida pela minha essência, isto é, pela essência do meu espírito, porque, dado que me faltasse, eu permaneceria, ainda assim, o mesmo que ora sou”.
Descartes

Já lá vão trinta e dois anos que – pelo domínio de uma democracia disfarçada, bem ao jeito da satírica ou denominada “república das bananas” – nos vamos orgulhando, envergonhadamente, de uma libertação aparente das mordaças e das algemas. Digamos, em abono da verdade, que, apesar de nos sentirmos vacinados contra a síndrome da política de pacotilha, a revolta íntima tem sido, infelizmente, uma “voz” destabilizadora do nosso próprio subconsciente. Tínhamos prometido que não falaríamos mais de política, por forma a mantermos a serenidade mental – a tal substância que Descartes contrapõe à material –, mas a permissão dos dislates perpetrados por (in)consciências, ética e moralmente mal formadas, têm-nos levado à indignação.

Desde os 18 anos de idade – altura em que vimos e sentimos as portas que Abril abriu e vivenciamos pela acção muitas das conquistas laborais e não só, por melhores condições de vida – que ouvimos falar, governo a governo, de crises anunciadas; “tangas” indisfarçáveis; desempregos permanentes; doenças incuráveis, face à crise financeira na saúde; reformas impraticáveis, condimentadas pelo “buraco” na Segurança Social; justiça inoperante, onde até já se crucificam polícias e se poupam os ladrões; e, bla..., bla..., bla..., blaaaaa... (apreendemos de muitos dos discursos justificativos para a “incompetência” dos nobres fazedores de paraísos, dos tempos que correm).
Fora dos lugares comuns do poder – ou, melhor dito, enquanto a ele não chegaram –, esses ilustres fazedores de paraísos desferem cobras e lagartos contra os que ocupam tais “penachados cadeirões”. Mas, eis que chegados ao lamaçal que tanto renegavam, logo se desdobram em moralizantes discursos do terapêutico – porque necessário – sofrimento para alcançar a graça, a felicidade e a subsequente estabilidade que, nos seus mentecaptos propósitos, será sempre financeira. A emocional é para os outros. Sim, os outros que fortalecem as suas estabilidades financeiras. Pode ser que venhamos a perceber tal dinâmica, quando – e se – nos permitirem usufruir tal estatuto. A emoção e/ou a emotividade são, por rotulagem, panóplia de quem trabalha e “vota” para a construção desses mesmos poderes. Infelizmente, apenas servimos, ou vamos servindo, de tapete vermelho para tão semblante repasto.
Trinta e dois anos depois, finalmente, percepcionamos, por nos fazerem crer, o facto dos políticos estarem ilibados das responsabilidades (des)governativas e que, para mal dos nossos pecados, tal carga negativa de desgoverno passou a ser imputada a quem trabalha, contrariando a pura razão do nosso irmão e inspirado vate brasileiro Vinicius de Moraes: Uma esperança sincera / Cresceu no seu coração / E dentro da tarde mansa / Agitou-se a razão / De um homem pobre e esquecido / Razão porém que fizera / Em operário construído / O operário em construção.
Até quando democracias assim condimentadas? Não sabemos!...

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