Monday, November 05, 2012

Premeditada reflexão no 25.º Aniversário do «Centro de Atletismo de Mazarefes»


“O atletismo é indiscutivelmente o mais universal de todos os desportos. Nenhuma outra federação congrega tantos países como a Federação Internacional das Associações de Atletismo. Nenhuma outra modalidade goza de semelhante acentuação olímpica”.

Sequeira Andrade

Ao falar-se do atletismo – e para termos uma noção clara de que o mesmo é a forma mais antiga de desporto e/ou a mais universal das modalidades desportivas –, teremos que forçosamente recuar até aos primórdios da nossa civilização, mesmo até ao tempo do homem das cavernas que, de uma forma natural, praticava uma série de movimentos, nas actividades da caça e de defesa, onde saltava, corria, lançava, ou seja desenvolvia uma série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de atletismo. Contudo, o atletismo sob a forma de competição, teve a sua origem na grande civilização grega, cujo espírito agónico era uma das suas características, desde os mais remotos tempos. Esta realidade já se encontra nos Poemas Homéricos, onde a preparação física é realçada como uma componente essencial da mundividência helénica. Segundo o professor catedrático José Ribeiro Ferreira – um dos grandes especialistas de estudos clássicos – “a paixão atlética emerge, assim, no quotidiano de um povo, que desenvolveu o seu espírito de competição, através da participação em diversos festivais e jogos que proliferaram nas diversas cidades gregas. Imbuídos de [tal] espírito agónico, amantes do exercício físico e desejosos de se superiorizarem aos demais, os Gregos gostavam de participar em competições e jogos desportivos que reunissem a fina-flor dos atletas”. As primeiras reuniões desportivas organizadas da história foram os Jogos Olímpicos, organizados pelos gregos no ano de 776 a.C., cujo principal evento aí realizado foi o pentatlo, que compreendia lançamento de disco, salto em comprimento e corrida de obstáculos. Celebravam-se no santuário de Zeus em Olímpia e cujo principal motivo eram celebrações e festividades religiosas, nas quais se integravam jogos atléticos, que ali se realizavam de quatro em quatro anos. Os jogos serviam amiudadas vezes de palco a conversações e a tratados de importância geral para os Gregos. Não é por acaso que Olímpia foi escolhida, com frequência, como lugar ideal para depositar o registo desses tratados e preservar tais documentos. Era o tempo em que os atletas vitoriosos eram recebidos com festejos nas suas cidades e cumulados de honras, sendo que os jogos davam a impressão mais nítida de uma unidade grega.


Esta realidade filosófico-desportiva é bem diferente nos tempos que correm, já que a cumulação de honras vai mais para outro desporto que nos escusamos aqui mencionar, para não ferir susceptibilidades, muitas vezes clubistas. É dentro deste contexto civilizacional contemporâneo que, em 1975, a coberto de uma juventude irreverente, seria fundado o Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes (GACDM), embrionariamente consumado por nós, Manuel Vaz da Silva, José Maria Rodrigues Forte e Américo Afonso da Balinha. Das profícuas actividades deste Grupo, o atletismo foi sempre a vertente associativa que mais longe levou o nome da nossa terra, a ponto de, a determinada altura, ser uma das grandes fontes de rendimentos para a sustentabilidade do mesmo Grupo. Em 1987, e porque se precipitavam algumas incongruências e crispações em relação à modalidade, o responsável pela mesma, Manuel Vaz da Silva, a conselho de algumas personalidades ligadas ao meio desportivo federado, resolveu romper com o Grupo que havia ajudado a criar, fundando o Centro de Atletismo de Mazarefes (CAM), com a empenhada colaboração de outros aficionados, a saber: Manuel da Silva Liquito, Armando Afonso Forte, José Napoleão Ferreira Ribeiro, Agostinho Dias Forte, João Paulo Dias Carvalho, José Gomes Forte e António José Liquito da Torre. Não foi fácil esta ruptura com o GACDM, levando a algumas incompreensões e até a empolgadas reacções negativas por parte de quem se manteve fiel ao Grupo, ora órfão do atletismo. Os ânimos exaltados foram-se apaziguando ao longo dos anos e todos foram ganhando o seu espaço, conquistando as suas cumulações de honras e a respeitarem-se mutuamente, fazendo transparecer a certeza de que tal percurso foi o melhor que poderia ter acontecido para a nossa freguesia, porque se duplicaram talentos, construíram-se novas infra-estruturas e promoveram-se proximidades. Tal como na Grécia, essa mesma competitividade acabou por ser palco de conversações e tratados de importância geral para todos nós e para a terra que nos viu nascer, e que a alguns soube acolher. Compreendemos perfeitamente as palavras de Manuel Vaz da Silva, aquando das comemorações do vigésimo quinto aniversário do Centro de Atletismo de Mazarefes (27 de Outubro de 2012), a propósito das dúvidas suscitadas pelos mais incrédulos, na tentativa de menosprezar o trabalho levado a cabo ao longo destas duas décadas e meia, relevando-as para o caminho percorrido em detrimento da desconstrução de uns poucos, que nada fizeram pela freguesia e muito menos pelo atletismo, em especial.
Hoje o atletismo em Mazarefes goza de boa saúde, porque há uma excelente e saudável articulação com as entidades oficiais, nomeadamente com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, Junta de Freguesia de Mazarefes, Associação de Atletismo de Viana do Castelo – sendo que o CAM contribuiu de uma forma particular para a sua fundação –, e com a Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes (saída da fusão do Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes com a Casa do Povo, da mesma freguesia). Fruto desta saudável articulação, Mazarefes dispõe hoje de uma Pista de Atletismo, de uma excelente sede social e de um polidesportivo sintético, há bem pouco tempo inaugurado.
Para terminar este nosso “deambular” da pena e da mente, convém aqui salientar que o Centro de Atletismo de Mazarefes tem no seu vastíssimo palmarés, desde campeões distritais a campeões nacionais, quer a nível individual quer colectivo, e pelo quarto ano consecutivo é considerado o clube do ano pela Associação de Atletismo de Viana do Castelo, por ser um clube dos mais representativos, tanto em número de atletas como em títulos conquistados. Como diria Manuel Vaz da Silva, o atletismo existe em Mazarefes há trinta e sete anos – numa alusão clara ao Grupo de Acção – e “por vezes digo que a nível distrital já ganhamos tudo que havia para ganhar”. Diremos nós que, com este espírito colectivo, ganhou a freguesia, a cidade e a região.

Parabéns ao Centro de Atletismo de Mazarefes e a todos aqueles que dão corpo a projectos desta natureza!

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