Friday, February 22, 2013

Recordar o Poeta João Marcos no centenário do seu nascimento!


“Em termos de Astrologia Hermética, o neófito João Marcos apresentou-se, novamente, ao Serviço, sob o signo da Constelação de Taurus, do primeiro decanato (25 de Abril). Como não somos perito em Cartomancia, vamos usar dos nossos conhecimentos bibliográficos e culturais para caracterizar este nosso Taurino Irmão, nato e criado na Beira-Lima”.

João Gonçalves da Costa

No passado dia 6 de Janeiro de 2013 fez oito anos que desencarnou João Marcos, o grande poeta limiano da universalidade cósmica: “Eu canto deste canto do Universo / o canto da galáxia onde estou. / Procuro ouvir dos sóis e do Céu terso / resposta ao meu problema de quem sou”. Face à nossa amizade (não deixava de nos procurar, sempre que vinha a este “Lima enfeitiçado / pela vila feiticeira / que remoça a cada instante / e baila de feira em feira / para o rio enamorado”), e tão só por isso, em vida tivemos o grato prazer e privilégio de apresentar – numa imerecida tarefa – o seu brado poético “Balaio de camarinhas”, com prefácio de António Manuel Couto Viana, em cerimónia pública na Torre da Cadeia Velha (Ponte de Lima), em Agosto de 2001, cujo florilégio contou ainda com a presença de Cláudio Lima (Maçã p’ra dois, apresentado por Virgílio Alberto Vieira) e de José Ernesto Costa (Cheio do Rio Lima – Janeiro de 2001, apresentado por Franclim Castro Sousa). Na altura, aludindo à responsabilidade acrescida – para a qual não nos sentíamos devidamente dimensionados –, definimos João Marcos como o “sempre jovem e poeta” e, tal como acontecera em “Epopeia do Homem Cósmico”, a obra que ora apresentava realçava também o plano transcendente. E isso era evidente nos títulos que plasmava nas suas obras, como um “balaio cheio de palavras e um camarinho, repleto de saudade, nostalgia e retorno”. Para nós, João Marcos tinha o “tempo” – em benefício do ser – e sabia amar, para depois dar um sentido ao universo, não esquecendo a mulher, a eterna amada dos poetas: “quando Deus fez a mulher / era hora de inspiração”. A última vez que estivemos com João Marcos foi quando o acompanhamos à sua última morada – emparceirados por, entre outros, Alberto do Vale Loureiro, Álvaro Castro, Amândio Sousa Vieira, Cláudio Lima, Daniel Campelo, Fernando Aldeia, Florinda Costa, Franclim Castro Sousa, José Ernesto Costa, José Sousa Vieira, Lídia Aleixo, Maria Cândida Brandão, Maria Conceição Campos e Teresa Alves –, o espaço físico da sua Terra Natal, onde “trazem-me os dedos do vento / de mal contadas distâncias / as nostalgias difusas / sepultas num tempo informe. / E em fundo de pinhal verde / em face às verdes parreiras / agitam verdes perdidos / no espaço de espinho e rosas / morrendo em tempo insepulto”. Nesse dia, ouvimo-lo bradar: “Quero uma casa no céu / suspensa de alguma estrela / e que tenha uma janela / para o terraço que é o céu. / Suspensa de alguma estrela / fora do mundo que é meu”. Felizmente que João Marcos sempre a tivera!
   

Anos mais tarde, em homenagem póstuma a João Marcos, João Gonçalves da Costa lançou, em 25 de Abril de 2009, uma obra intitulada “João Marcos: vida e obra de um grande pensador da Beira Lima”, numa edição do jornal Cardeal Saraiva, que no passado dia 15 de Fevereiro completou cento e três anos de existência. É um livro diferente para pessoas diferentes, como diferente era João Marcos nesta vida terrena: “num documento que publicamos, em nome do próprio homenageado, que julgamos inédito, está patente o seu alto espírito de Aventura Terrestre e Epopeia Cósmica, na linha de alguns poemas que nos deixou. Por isso, devemos ser gratos para com aqueles que, tendo, embora, nascido em terras aparentemente atrasadas, dão-nos uma inusitada lição, não só de civismo e patriotismo, mas também, uma visão cósmica e uma profunda ânsia de conexão espiritual com a nossa Consciência Cósmica” – citamos João Gonçalves da Costa, limiano de Anais, Ponte de Lima, onde nasceu em Junho de 1934, profundo conhecedor das Gentes e dos Sítios, por onde tem viajado, desde há muito, muito tempo – como imagem móvel da eternidade –, onde aprendeu que a competição nem sempre é o melhor Caminho. Daí, preferir a partilha!
João (Marcos) Gonçalves Ribeiro (1913-2005) natural de Rebordões (Santa Maria), Ponte de Lima, possui uma vasta e importante obra literária, que se distribui por vários ramos e temas: Poesia, Romance, Novela, Crítica Literária e Artística, Análise Política; Intervenção Política e Sociológica, Literatura de Viagens, Defesa dos Valores da Natureza, etc. Segundo João Gonçalves da Costa, “cabe-nos, também, dar corpo aos seus Ideais, exemplos de bairrismo; ligação efectiva de amor ao torrão natal, ao Karma regional e nacional. Para além do seu labor literário, é de destacar o seu Amor à Terra Natal e a força anímica com que ele se deslocava, no seu vetusto Volkswagen, que já conhecia, de cor, os caminhos para Beira-Lima, sem nunca deixar mal o seu companheiro”. E João da Costa não deixa de agradecer ao José Ernesto Costa, “pelo convite e entusiasmo com que me envolveu neste movimento cívico e cultural, em Memória do Poeta e Escritor João Marcos, nascido a 25 de Abril, em Rebordões (Santa Maria)”. Também, há cerca de duas décadas a essa parte, havia sido o José Ernesto que nos tinha apresentado o poeta que deslizava “sob estrelas entre veigas e pomares / um Lima de magias faz-se areal no meu peito / sou feito e contrafeito / de pressas e vagares / em marcha sem sentido para um rumo sem regresso / um rio sai de mim a toda hora / em mim nasce uma fonte a cada instante”.
Na altura, aquando da saída deste maravilhoso livro – embora de difícil leitura para o comum dos mortais – de João Gonçalves da Costa, não podemos estar presentes (nem a ele aludirmos) porque, tal como houvera acontecido com Lobsang Rampa: “algum tempo mais tarde, as visões começaram a desvanecer-se. Gradualmente, a minha consciência, tanto astral como física, abandonou-me. Mais tarde ainda comecei a ficar desagradavelmente cônscio de sentir frio – o frio de jazer sobre uma laje na escuridão gelada de um túmulo. O meu cérebro sentia dedos tateantes de pensamento. Está voltando para nós. Aqui estamos! Minutos passados e uma luminosidade vaga aproximou-se. Lamparinas de manteiga. Os três velhos abades. Passaste a prova, meu filho. Aqui jazeste durante três dias. Agora viste. Morreste e tornaste a viver”. Foi assim que nos sentimos quando, “cognitivamente”, passamos por situação semelhante de 2008 a 2011, sem que tivéssemos dado pelo tempo!
Para terminarmos, e sabendo nós que outro dos grandes vates limianos (Cláudio Lima) há muito vem estudando a profícua e multifacetada obra de João Marcos (e de quem era um especial confidente), pensamos que já vai sendo tempo de perpetuarmos – de uma forma física, que bem poderá passar também pela edificação de um monumento – a memória deste grande POETA limiano, que teve a coragem de reconhecer que criava “a palavra para a transformar em amor infinito / mas a palavra se verga e contorce num doloroso grito” – simplesmente sublime. No ano em que se comemora o centenário do nascimento de João Marcos (25 de Abril), pensem nesta nossa sugestão, para a qual dispensaremos (se assim o entenderem) o nosso “precioso tempo”.
         Haja vontade!

No comments: