Friday, June 28, 2013

“Gente do Vale” do Neiva em Domingos da Calçada!

“Daí a razão do título desta obra: Gente do Vale, porque pertencente a um segmento geográfico possuidor de uma identidade cultural muito vincada e porque merece honras de ser consagrada por um grande escritor, quanto o é Domingos da Calçada!”.

Fernando Pinheiro (Editor da Calígrafo)

Acabamos de ler “Gente do Vale”, obra que premeia a importância e a preponderância memorialista de Domingos da Calçada, um dos maiores – senão o maior – contistas que conhecemos até hoje. Esta afirmação não a proferimos de uma forma leviana – mas por aturada convicção –, dado que já conhecemos os seus escritos há mais de trinta anos a esta parte, contextualmente tomada em boa conta, aquando da saída da obra de grande fôlego «Vale do Neiva: Subsídios monográficos» (1982), hoje uma raridade bibliográfica, onde Domingos da Calçada deixaria impressos seis magníficos trabalhos e um soneto: “O Senhor do Lírio”, soneto; “O Neiva piscícola”, truteiro por excelência, é conhecido de cada pescador de salmonídeos cá do Norte; “Maria Pomba: uma artista”, pobre de bens materiais e sem mais ambições para além da sua realização pessoal, num mundo em que a realização pessoal se entendia uma mania consequente do pouco abono de siso (…); “Poetas do Vale do Neiva”, perpassando por uma abordagem alusiva a Custódio Bandeira; “Minério”, procurando alertar para a fenomenologia dos que a ele se devotaram com esperança e sofrimento; “Um episódio grotesco… Numa recolha do sábio José Leite de Vasconcelos”, que visitou Durrães por várias vezes e levou daqui apontamentos de testemunhos, histórias, quadras e palavras virgens; e, finalmente, “Capelas do Vale do Neiva”, numa viagem pelos concelhos de Vila Verde (S. Miguel de Prado, Godinhaços, Pedregais, Duas Igrejas, Azões, Portela de Penela [ou Das Cabras], Marrancos, Goães, Rio Mau e Arcozelo), Barcelos (Igreja Nova, Alheira, Panque, Cossourado, Balugães, Aborim, Quintiães, Aguiar, Durrães, Tregosa, Fragoso, Aldreu e Palme), Esposende (Forjães, Belinho e S. Paio de Antas), Viana do Castelo (Carvoeiro, Barroselas [Capareiros], Mujães, Portela Suzã, Vila de Punhe, Vila Fria, Alvarães, S. Romão do Neiva e Castelo do Neiva) e Ponte de Lima (Anais, S. Lourenço do Mato, Friastelas, Cabaços, Fojo Lobal, Calvelo, Gaifar [S.ta Eulália], Vilar das Almas, Sandiães, Navió, Freixo [S. Julião], Ardegão, Poiares e Vitorino de Piães), e, mais tarde, de 2001 a 2007, da publicação dos três volumes de contos em SEROEIRA: Rumores d’Águas Passadas (2001), caracterizando pessoas com seus defeitos e virtudes e a forma de vida que levaram; Tempos Difíceis (2003), onde foca especialmente “algumas cenas duma época de duas guerras ao longo de nove anos, que deixaram marcas de ruinosas feridas – ainda a sangrar no prolongamento duma longa recessão”; e Em Busca da Pataqueira (2007), volume de casos, cujos personagens, “na maioria habitantes deste Vale [do Neiva], demandaram outras terras, tentando a melhoria de vida que dificilmente conseguiriam naquela que os viu nascer”.
Mas, o que nos trouxe aqui hoje, neste espaço muito nosso (conscientemente pensado e não manietado), é a vertente de excelso contista em Domingos da Calçada, pseudónimo literário de Domingos de Castro Barbosa Maciel, nascido em Durrães, Barcelos, a 18 de Fevereiro de 1931, aprazível e bucólica freguesia do Vale do Neiva, onde frequentou a escola primária, tendo prestado provas de exame na Escola Gonçalo Pereira, na sede do concelho. No Porto foi aprendiz de caixeiro, no célebre “Passeio dos Carapuceiros”, que nos princípios do séc. XX se situava no lado esquerdo da rua dos Clérigos. Prosseguiu a actividade comercial, como trabalhador e gerente, enquanto desempenhava o ofício de avaliador de propriedades rústicas e urbanas. Ao estabelecer um contacto directo com as gentes do Vale do Neiva, coleccionou ocorrências e ouviu casos passados na Ribeira, sempre registados numa linguagem pura, plena de rusticidade e de termos caídos em desuso: “Os contos que agora vêm a lume foram publicados no período entre os anos de 2001 e 2007, numa colecção que Domingos da Calçada intitulou «Seroeira», de cuja edição se encarregou a Casa do Povo de Durrães. Compõem a colecção três livros (Rumores d’Águas Passadas; Tempos Difíceis; Em Busca da Pataqueira), que no seu conjunto perfazem sessenta e seis contos de temática marcadamente rural e inscrita na experiência histórica dos finais do século XIX e primeira metade do séc. XX. / No decurso desta trilogia, Domingos da Calçada levanta um extraordinário fresco da gente do vale do Neiva, captando dela veros e vívidos retratos dos seus costumes, tradições, crenças, aspirações e lutas num tempo marcado pelo analfabetismo, a doença, a fome e as péssimas comunicações” – conforme se pode ler em nota do editor à “Gente do Vale”, enquanto obra cuja realidade não precisou de ser inventada, dado que a sua representação simbólica se escora numa verdadeira experiência histórica, do autor e das suas gentes.


Assim, perpassam pelo Gente do Vale dezasseis dos sessenta e seis contos publicados em Seroeira (O Vínculo, O Alvião, Ajuste de Velhas Contas, As Libras de Cavalinho, O Nubente, O Fiel, As Calças Novas, O Legionário, O Galego, O Perdão, A Parturiente, O Ferreiro, O Sermão, O Relógio, O Pistolão Ferrugento, O Traficante de Escravos), e que no dizer da editora (fazendo nossas as suas palavras) se levantam homens e mulheres de grande autenticidade, nas suas misérias e grandezas, trespassadas de uma enorme intuição existencial e portadoras de uma notável cédula antropológica: “lavradores, frades, mercadores, artesãos, feirantes, pedreiros, ferroviários, jornaleiros, padres, romeiros, brasileiros de torna viagem desfilam diante de nós na sua castiça espontaneidade, tão própria do minhoto, e preenchem as suas cantantes parlengas com preciosos localismos que enchem a alma a quem gosta de ser seduzido pelas novidades semânticas e pela fantasia da linguagem”. Que mais poderíamos acrescentar a esta extraordinária “constatação analítica” de Fernando Pinheiro? Simplesmente nada, tendo em conta que o dito não pode ser redito. Se o fizéssemos, ainda que por outras palavras, cairíamos no “lapsus calami” de muitos dos cronistas do nosso burgo. Daí, para além da magnanimidade dos contos, apenas glosarmos com algumas das “novidades” semânticas de antanho, escolhidas aleatoriamente: deixe-se de liornas; naquele chaporro grosso; que sai machorra e não pega; é mais uma p’ra botar no postoiro; e pousasse o barreleiro; podiam ser trabalhos a trouxe-mouxe; p’ra saber quem foi o zaganeiro; mas t’arrenego, mofendo maldito, ‘squemuncha dos infernos; bô compadrio e melhor passadio; alembrei-me doitra; ribombou, furibundo, o abade do Couto; os machos saíram remaniscos e as franguinhas são todas carecas; sume-te, dianho, p’ra Airão! Inda as maleitas te levem, corrido dos inxurros!; o homem não tinha escapatório; cinco merréis que tinha; quijés portestar; Ah, grande caráfio! T’arrenego, ‘stafermo! Súme-te, arelho dos diabos!; aquilo era lá com lá e lé com cré; nomes feios como panhona, pastola, sostra, calaceira…; era obrigado a encostar a fivela; dou por ele a vostede o valor da casa e do eido; Non se estexa a penar com isso! Garde todolos cartos, mail-o eido e a casa! Quedese con todo, hom, que non tenho mentes de llo pedir! Sequera non cavilei endexamais de lo esixir, e nin llo quiero!; nenhuma juradia da aldeia se dava conta; incouçou; tatulado; fossadores da jeira; bestiagas; sapateiro assapateirado; deitar contas à vida; bolbo maligno; tomar os nortes; enterrar a pele e os ossos!; cai lostra da pesada; antes ser corno, que deixar de cozer o forno!, etc.,  etc., que acabam por reflectir o sentido estético das suas narrativas, porque “estruturadas” em cima de acontecimentos reais, transformando Domingos da Calçada num “escritor-cronista (embora de um mundo extinção) na posse de uma base de dados de inegável riqueza cultural e humana” – citando a própria editora.
              Nota máxima para «Gente do Vale» e todo o percurso existencial de Domingos da Calçada, porque ao ser dotado duma “sapiente sensibilidade” de carácter, fê-lo possuidor de uma riqueza cultural e humana. Como a gentes do Vale!...

Saturday, June 22, 2013

«Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos» pela pena e visão de Mário Leitão!

“Tratando-se de uma obra sobre o que nós naqueles tempos chamávamos «Lagoas de Bertiandos» e sobre a sua biodiversidade, ela constitui também uma história de vida, não só do seu Autor; mas também de todos aqueles que com ele puderam partilhar a descoberta da riqueza de um Paraíso único que felizmente e também por ele, atempadamente se protegeu”.

António Manuel Lemos Dias Rebelo

Falar desta obra, esteticamente pautada por uma magnífica apresentação – exprimindo-nos única e exclusivamente pela máxima de David Hume quando um dia afirmou que “o padrão de gosto emerge da natureza dos seres humanos” –, transformou-se para nós num autêntico “delirium-tremens”, já que a nossa paixão pelas coisas da natureza, apenas se reflecte no escol do reconhecimento da “vastidão da nossa ignorância”… no assunto versado, claro! Apesar de sentirmos essa “debilidade”, em matéria consequencial de termos de recorrer à “audi alteram partem”, jamais alguém poderá tirar-nos a convicção de passarmos de critérios “comuns” para um “padrão” de gosto pessoal. Daí, começarmos por agradecer ao Dr. Mário Leitão a amável oferta, com imerecida deferência autografada, e expressarmos como primeira impressão o plano estético, tendo em conta o impacto emocional. De uma forma geral, gostamos.
Apesar de há mais de três décadas trazermos às costas da nossa “amadora condição de ambientalista”, a luta inglória de vermos o berço ribeirinho da nossa ancestralidade limiana, classificada como “Área Protegida da Zona Húmida da Veiga de S. Simão”, é evidente que não nos iremos debruçar sobre o aspecto científico da obra ora trazida a lume, por nos acharmos intrusos em “seara alheia”, em termos de conhecimentos. Contudo, não queríamos deixar de salientar a forma irrepreensível como foi estruturada, em termos de conteúdos, a primeira parte do livro «Aspectos da biodiversidade na APPLBSPA»: Introdução esclarecedora; O que é a biodiversidade, definida em 1989 pelo Fundo Mundial para a Natureza, esclarecendo o conceito de Zonas Húmidas como “sistemas naturais complexos caracterizados por propriedades biológicas, ecológicas, hidrológicas e científicas únicas, que proporcionam uma gama de valores e serviços à população local e à Humanidade como um todo”; Fauna riquíssima, reproduzindo O esplendor dos insectos (moscas e mosquitos; abelhas e vespas; aranhas; gafanhotos, grilos e louva-a-deus; borboletas; coleópteros; caracóis e lesmas); A graciosa frieza dos répteis; os Mamíferos (ouriço-cacheiro; esquilo; gineta; lontra; toupeira-cega); O fascinante mundo das aves, percorrendo a variadíssima avifauna (cartaxo; gaio; poupa; pombo-torcaz; pombo-doméstico; bico-de-lacre; cia; pintarroxo; melro; pintassilgo; pato-real; galeirão; galinha-de-água; lavandisca-de-alvéola-branca, cinzenta e amarela; chapim-rabilongo, real e azul; dom-fafe; tordo-pinto; lugre; pisco-ferreiro ou rabirruivo; milheirinha ou chamariz; gralha-de-nuca-cinzenta; pega; rola-turca e brava; toutinegra-de-cabeça-preta e barrete; guarda-rios ou martim-pescador; pisco-de-peito-ruivo; pardal-comum; garça-real e branca; açor; bufo-real; águia-de-asa-redonda; maçarico-real; cegonha-branca; gralha-de-nuca-cinzenta; verdilhão; pardal-doméstico), e que fazendo fé na diversidade, estaremos perante um caso único a nível europeu e, quiçá, mundial, terminando com uma descrição curiosa dos ninhos; a Visão, olfacto e outros sensores; Mimetismo, truques e camuflagem; Cópulas (preferimos a designação “acasalamento e reprodução”), que nos leva a compreender a que se deve a extraordinária capacidade adaptativa de certos animais; Outras Espécies; e, por fim, a descrição da Flora exuberante (topismos e sobrevivência; paraíso de plantas medicinais; fungos, cogumelos, líquenes e musgos; esporos, sementes e frutos; flores silvestres), por certo com a imprescindível e sapiente colaboração do nosso particular amigo, de longa data, João Gonçalves da Costa.
             

Para terminarmos, gostaríamos apenas de fazer um pequeno reparo/sugestão, sempre dentro de um espírito construtivo de opinião, ainda que subjectiva, sendo que, segundo Gadamer, “o juízo estético e a produção artística andam de mão dada”: Achamos exagerado conter quatro prefácios, e que a obra – e por forma exclusa em se afirmar “enquanto a história associativa desses rapazes não é escrita, presto-lhes aqui a minha admiração, não podendo esconder o orgulho que tenho em ter feito parte do Grupo” – deveria começar por contar a história do GEICE (Grupo de Estudo e Investigação das Ciências Experimentais) – citando das suas palavras, “é que essa associação cultural-científica nunca teria nascido se não fosse a generosidade de seis jovens limianos (António Mário Lopes Leitão, António Manuel Lemos Dias Rebelo, António Manuel Portela Vilas Boas, Valdemar dos Santos Fernandes, Avelino Jorge Guimarães de Sousa e Castro e Francisco Guilherme de Castro Mendes Gomes) que se uniram num projecto ímpar de ocupação dos tempos livres, o qual teve grande impacto local, regional e nacional, entre 1975 e 1985” –, perpassando pelo seu estado actual (… o quê a nível científico?) e o porquê de ter saído de Ponte de Lima; do papel subsequente do Clube de Vela de Viana e da Associação Amigos do Mar; do incentivo inicial do então Presidente da Câmara, Francisco de Abreu de Lima – Sinto-me quase cúmplice do entusiasmo (mas não do resultado) que animou o António Mário –; do processo oficialmente desencadeado pelo Município de Ponte de Lima, presidido por Daniel Campelo –, por ter conseguido obter junto do Ministro José Sócrates a publicação do Decreto-regulamentar n.º 19/2000, de 11 de Dezembro, o qual consagra a existência jurídica da APPLBSPA (perpetuada a memória, em marco levantado junto à entrada do Centro de Interpretação Ambiental: HOMENAGEM AOS QUE ACREDITARAM / TRIBUTO AOS QUE FIZERAM) –, e depois, sim, como corolário desse pioneirismo na criação do Parque Biológico de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, a publicação da Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos. Aí, por certo que, a nosso modesto ver, e sem desprimor para o Lions Clube de Ponte de Lima, o Município de Ponte de Lima “sentir-se-ia na obrigação” – ou a isso seria obrigado – de editar esta obra.
À parte deste nosso reparo/sugestão estrutural, gostamos da obra e das “palavras últimas” de Mário Leitão, num sinal de préstimo e/ou reconhecimento aos “Bardos” deste rio que nos viu nascer: “Se fosse poeta saberia cantar as maravilhosas aventuras que o Criador me tem permitido viver! / Seria uma bênção acrescida partilhar convosco, sob o melodioso poder dos versos, a recordação de belos dias de emoção nos céus do Minho, nos recantos selvagens do vale do Lima e no silêncio submerso do mar de Viana. / Enquanto não descubro a veia poética, deixo-vos estas 535 fotografias e os nomes de 54 pessoas, entre muitas outras, que partilharam comigo o sonho de criar uma Área Protegida”.
         Estamos-lhe gratos por isso!

Sunday, June 16, 2013

História da moeda em Angola: “angolar” e “escudo” do nosso tempo!

Em face de muitos dos leitores do nosso blogue sugerirem um pouco da história da moeda em Angola, nomeadamente ao tempo da ida de nosso pai para Luanda (1956), Angolar, e da nossa chegada à pequena povoação do Quibocolo (1960), Escudo, foi que resolvemos partilhar as imagens desses dois marcos da nossa vida de africanidade. 
  


       Antes de falarmos da moeda angolar, teremos em dizer que o angolar (também conhecido como ngolá) é uma língua nacional de São Tomé e Príncipe, falada na ponta sul da ilha de São Tomé, principalmente em torno da vila de São João dos Angolares, distrito de Caué. Sendo uma língua crioula de base portuguesa, o angolar difere grandemente dos crioulos da Guiné-Bissau, Senegal, Gâmbia e Cabo Verde. O substrato do angolar assenta principalmente nas línguas kwa, faladas na Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim e Nigéria. Partilha 70% de semelhança lexical com o são-tomense (ou forro), 67% com o principense (ou lunguyè) e 53% com o anobonense (ou fa d'ambu) da vizinha ilha de Ano Bom (Guiné Equatorial). Os 30% de léxico em que o angolar difere do são-tomense vão buscar as suas origens ao quimbundo e ao quicongo de Angola. Assim, e reforçando esta tese originária, os angolares são um grupo étnico distinto que tem a sua origem atribuída ao naufrágio, ao sul da ilha de São Tomé, de um navio negreiro com escravos trazidos de Angola em meados do século XVI. Muitos angolares actualmente falam também são-tomense e/ou português e há uma tendência para se integrarem nos forros – que significa homens livres – que constituem o principal grupo étnico de São Tomé e Príncipe.
    A circulação monetária em Angola originária de Portugal é conhecida desde o reinado de D. Pedro II que decretou o envio para esta colónia e para o Brasil de moeda de cobre. Estando afastada da metrópole decidiu-se atribuir ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) a exclusividade de produção de notas em 1901, privilégio concedido por contrato inicialmente até 1911.
Dada a crónica falta de moeda circulante agravada pela má qualidade das primeiras emissões do século XX, o BNU fez a emissão Vasco da Gama em 1910. Esta emissão entrou efectivamente em circulação após prescrição da anterior emissão em 31-12-1910. Assim, efectivamente as primeiras notas emitidas em Angola durante a república foram em Réis. Estas apresentavam os seguintes valores: 1$000, 2$500, 5$000, 10$000, 20$000 e 50$000. Estas notas foram todas produzidas na gravadora londrina Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd.
Em 1911 com o Decreto de 22 de Maio morre o Real e nasce o Escudo. Em Outubro de 1911 determinou-se que a nova unidade monetária seria extensiva às Províncias Ultramarinas. Mas apenas em 1913 se ordenou a execução de tal determinação pelo Decreto n.º 141 de 18-09-1913. Na prática as contas em Angola assumiram a nova unidade monetária em 1 de Janeiro de 1914. Entretanto mantinham-se em circulação as emissões do tempo do Real (moedas e notas). Em finais de 1913 haveria cerca de 1440 contos em notas, sendo que o metal era praticamente ausente.



Em 1913 a crise angolana acentuou-se derivada à desvalorização da borracha no mercado internacional. Para complicar a Metrópole não vivia momentos melhores e as dificuldades em cunhar e produzir dinheiro eram gritantes. Por esta altura a falta de numerário circulante era tão grave que em discurso Norton de Matos refere que muito do comércio da província era feito por troca directa. Lançava o recto (1914) para que em Angola se constitui-se uma entidade emissora própria para obviar essa limitação ao crescimento. Para tentar aliviar esta crónica falta de numerário e os custos de emissão e transporte de moeda de prata para as províncias, foi dada autorização ao BNU de proceder à introdução em circulação de cédulas (Decreto 1001 de 2-11-1914). De acordo com este decreto a emissão seria feita com o desdobramento de notas do BNU de tipo superior existentes (série Vasco da Gama), as quais seriam retiradas da circulação e depositadas na Caixa Geral de Depósitos. Depois das cédulas, em 1921 a crise monetária e financeira era ainda mais grave e a incapacidade do Governo da Metrópole (a lutar com crise idêntica) de resposta era gritante. Neste contexto o Governo Provincial presidido por Norton de Matos verificou que a melhor solução passaria por tomar a responsabilidade da emissão monetária local. De acordo com o Decreto Provincial n.º 13 de 7 de Maio de 1921, essa emissão teria de ser não só em papel como em moeda metálica. No princípio do segundo semestre de 1922 foi lançada para circulação a emissão Chamiço do BNU para substituição da já desgastada e insuficiente emissão “Vasco da Gama”. Esta emissão recebeu este nome por prestar homenagem à figura de Francisco Oliveira Chamiço cuja efígie figurava em todas as notas.



A crise financeira constante em que estava mergulhada a colónia de Angola veio a ser agravada pelo escândalo do Banco Angola e Metrópole. O ano de 1926 foi marcante por ter sido atingido o pior momento dessa crise. Para tentar resolver semelhante situação económica foi realizada nova reforma com a criação da Junta da Moeda e a constituição do Banco de Angola que recebeu a estrutura do BNU presente em Angola. Nesta fase era autorizada e reformado o sistema de moedas e dado à Junta da Moeda o poder de preparar a introdução desse novo sistema monetário. A unidade criada foi o Angolar, mas o padrão monetário mantinha-se o Escudo Ouro (1 Angolar = 1 Escudo Português). No entanto, o facto de o valor da inflação em Angola ter sido superior ao da Metrópole provocou que o escudo em curso em Angola fosse equivalente a 0,8 do escudo da metrópole. Como tal, a taxa de câmbio do escudo nacional era de 0,8 Angolares, facto que permitiu ajustar a dívida da província mas provocou graves problemas sociais na província.
Assim, e para não nos tornarmos demasiado minuciosos, diremos que o Angolar era a moeda que circulava em Angola quando para aí foi o nosso pai Manuel António da Silva Rebolo (1933-2010), em 1956. O Angolar foi assim a moeda oficial de Angola entre Setembro de 1926 e Dezembro de 1958. Substituiu o Escudo Angolano e foi por sua vez substituído por um novo Escudo. O Angolar foi emitido até Janeiro de 1929 por uma Junta de Moeda e partir dessa data pelo Banco de Angola. Esta nota que guardamos religiosamente, porque herdada de nosso pai, foi emitida em 6 de Outubro de 1948 (D 851366), por altura das comemorações do Tricentenário da Restauração de Angola (1648-1948).


FONTES: Wikipédia (A encyclopedia livre); ARBOR, Ann (1998) – The Angolar Creole Portuguese of São Tomé (West Africa): its gramar and sociolinguistic history, Graduate Center, University of New York; e COUTOS, Nuno – Apontamentos: Escudo. (www.numismatas.com/Forum/Pdf/.../Apontamentos_Escudo_Vol_4.pdf‎.)

Friday, June 14, 2013

«Limites da Consciência» em José António Alves!

“Há aqui uma pergunta incrível que poderíamos fazer. É esta: por que razão cada um de nós não é como um sistema leitor de códigos de barras? Os nossos cérebros poderiam ser desse modo, e os nossos sentidos também. De facto, nós poderíamos ser códigos de barras com pernas, com a capacidade de andar por aí sem sentir nada, mas não confundindo as estradas, as portas, as gares das estações de comboio”.

Manuel Curado

O nosso particular amigo José António Alves, investigador no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, onde desenvolve um projecto de doutoramento sobre Edmundo Curvelo; Mestre em Ciência Cognitivas e Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa; Co-organizador do livro Escola de Braga. A Correspondência com Delfim Santos (2011); Bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência (FCT), acaba de lançar o seu primeiro livro, sob a chancela da “Fronteira do Caos”, com o sugestivo título «Limites da Consciência: o meio segundo de atraso e a ilusão de liberdade», onde temos a possibilidade de constatar “a relação mente-cérebro, o desfasamento temporal da consciência e a sensação de que somos livres são alguns dos enigmas mais notáveis da ciência contemporânea”. Este livro relata as investigações clássicas de Helmholtz e de Benjamin Libet, bem como o debate actual em torno da relação mente-cérebro. É a própria editora que, em sinopse ao mesmo livro, nos questiona: “De quanto tempo precisou o Leitor para sentir consciência do livro que tem na mão? De quanto tempo precisa para compreender o significado das palavras que tem diante de si? Quando um livro lhe desperta emoções, de quanto tempo precisa para sentir essas emoções? Quando circula no meio do trânsito e vê um veículo na sua direcção, de quanto tempo precisa para desviar-se?”, levando-nos à certeza de que Limites da Consciência dá resposta a estas perguntas, tendo em conta que explora o factor temporal da mente humana e a sensação de que somos livres, dizendo “por que razão a consciência está sempre atrasada em relação às coisas que acontecem e analisa, em consequência desse atraso, a ideia polémica de que a liberdade humana é ilusória”.


A primeira apresentação pública deste extraordinário livro, esteve a cargo do Professor Doutor Manuel Curado (Universidade do Minho) – também prefaciador desta obra –, e ocorreu no pretérito dia 11 de Maio, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, Amarante, terra natal de José António Alves. Dividido em dois capítulos: I – O meio segundo de atraso (1. Fenómeno PHI; 2. Hermann Helmholtz: a velocidade dos nervos transmissores; 3. Benjamin Libet: o meio segundo de atraso; 4. Horizontes de simultaneidade; 5. De novo o Fenómeno PHI; 6. Enigmas do Tempo) e II – A ilusão de liberdade (7. A ilusão da liberdade; 8. Determinismo; 9. Daniel Dennett: o Livre-Arbítrio; 10. Vontade de poder), e fazendo nossas as palavras de Manuel Curado (de quem temos o profundo orgulho de sermos seu discípulo), este livro é “um contributo importante para se compreender um dos maiores enigmas da ciência contemporânea. Não se sabe o que faz a mente subjectiva num mundo que é constituído por átomos. A matéria não sente, não experiencia, não acredita e não imagina. Cada um de nós pode escolher na história da arte a sua estátua favorita para fazer o exercício necessário para se ter a experiência do espanto sobre a consciência humana”. E que maneira mais brilhante o autor poderia encontrar para nos chamar à coacção da fragilidade da consciência resultante do estímulo dos sentidos, quando pensamos que os mesmos nunca nos enganam: “Quando pegou no livro que tem nas mãos e o começou a ler não lhe restaram dúvidas de que, simultaneamente ao gesto de pegar no livro e o começar a ler, teve a experiência subjectiva de pegar no livro e o começar a ler. Intuitivamente propende-se a seguir a ideia de existir uma correspondência unívoca entre a estimulação física dos sentidos e a experiência consciente”. E a experiência foi muito interessante, porque estimulados pela liberdade ligada à consciência – Dennett não duvida de que a consciência humana surgiu na natureza para partilhar ideias –, enquanto fruto da evolução biológica e cultural, surgindo “em resposta a uma inovação cultural: a actividade de comunicar crenças e planos e trocar ideias (…), isto transformou muitos cérebros em mentes e a distribuição de autoria tornada possível por esta interconectividade é não somente a fonte da nossa enorme vantagem tecnológica sobre o resto da natureza como da nossa moralidade” – citando Dennett, através de José António Alves.
  

Sem querermos dissimular qualquer tipo ou pretenso “eruditismo filosófico” – qual estatuto de “aprendiz de feiticeiro” ou simples peripatético –, apenas nos apraz registar a certeza de que, se por um lado “tínhamos consciência” de que os sentidos não nos enganam “e muito menos a consciência resultante do estímulo dos sentidos”, ao lermos este livro depressa concluiríamos a fragilidade das nossas convicções. O Professor Manuel Curado, no dia do lançamento, tocaria num dos pontos fulcrais da experiência por nós vivenciada (na leitura) quando afirmou “que a viagem que o livro-bebé que agora nos reúne, Limites da Consciência: O Meio Segundo de Atraso e a Ilusão da Liberdade, começa a fazer só terminará quando não existirem pessoas interessadas nos temas que aborda. Isto é improvável. Vejamos porquê. Teríamos que imaginar com ousadia pessoas para quem já não fosse importante saber por que razão elas próprias não são como os computadores ou os electrodomésticos que têm em casa. Ao contrário destas máquinas, as pessoas sentem alguma coisa, têm emoções, têm um filme a cores a correr dentro de si. Ninguém sabe ainda por que razão somos assim. Qualquer de nós poderia ser como os tais computadores ou electrodomésticos, essas máquinas sofisticadas do nosso tempo. A diferença reside em que nós andamos por aí a sentir, a pensar e a acreditar. Nós até sentimos cócegas! E não há nenhuma máquina no mundo que consiga sentir o que quer que seja, nem uma cócega, nem uma alegria, nem um sonho!”.
Para aguçarmos o apetite aos curiosos como nós, recolectas no reconhecimento da imensidão da nossa própria ignorância, diremos como o Professor Manuel Curado: “o lançamento do livro do Dr. José António Alves não está a acontecer agora; aconteceu há uns tempitos atrás, e só uns tempitos depois é que nós tivemos consciência do lançamento do livro. Nós estamos atrasados em relação ao real, atrasados em relação ao tempo presente”… Limites da Consciência: o meio segundo de atraso e a ilusão de liberdade, uma leitura que se impõe, dado que, no dizer do ilustre prefaciador, “todos nós estamos nas páginas deste livro porque a investigação que ele acompanha ocupa-se de um problema de todos os seres humanos. Um livro sobre nós só pode ser amado do modo próprio e exclusivo em que os livros podem ser amados: sendo lidos, reflectidos, e sendo presenças constantes na nossa vida”.
        Nota máxima!

Saturday, June 08, 2013

A essência do homem em geral em Ludwig Feuerbach!

“A religião repousa na diferença essencial entre o homem e o animal – os animais não têm religião. É certo que os mais antigos zoógrafos, desprovidos de crítica, atribuíam ao elefante, entre outras propriedades elogiosas, também a virtude da religiosidade; só que a religião dos elefantes pertence ao mundo das fábulas”.

Ludwig Feuerbach

Só porque vivemos um dos períodos mais conturbados do entendimento da verdadeira essência humana e do fenómeno religioso como criação humana – atente-se ao facto de o Papa Francisco se permitir aventar a “salvação” mesmo para os ateus, sendo desautorizado (ou desacreditado) de imediato pelo porta-voz do Vaticano, Thomas Rosica, quando afirma que pessoas que conhecem a Igreja Católica “não podem ser salvas” se recusarem-se a entrar nela ou fazer parte dela –, resolvemos fazer, esta semana, uma pequena reflexão à volta do filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1882), cujo nome está ligado à influência que exerceu sobre o pensamento de Marx, à primeira tentativa de oposição ao hegelianismo e à primeira crítica da religião como alienação do homem de e por si próprio. E tomamos por referência reflexiva A Essência do Cristianismo, pelo facto desta obra se apresentar como um dos textos fundamentais do século XIX, tendo em conta que a sua importância vai muito mais para além desse “postulado”, dado que se constitui, também, numa obra (que lhe viria a conferir notoriedade) de referência obrigatória em todas as interpretações que nos conduzam ao fenómeno da religião. Para confirmar tal convicção, como afirma Adriana Veríssimo Serrão na apresentação desta obra – também por ela traduzida –, “bastaria ter em conta a imensa série de estudos, comentários e refutações que não mais deixaria de suscitar, desde a sua publicação em 1841, até aos nossos dias”. Nesta mesma obra, Feuerbach encontra o fundamento da articulação entre identidade humana e o divino, ou seja, por outras palavras, o fundamento da íntima articulação e da identidade essencial entre o humano e o divino.       
Remetendo-nos à essência do homem em geral, Feuerbach começa por formular a diferença entre o homem e o animal através da consciência, sendo que para ele, onde existe consciência, existe capacidade para a ciência. Não significa com isto que Feuerbach recuse tal consciência – enquanto “faculdade de diferenciação sensível, de percepção das coisas exteriores segundo certos traços perceptíveis” – aos animais. Para o filósofo alemão, isso só acontece porque o animal é objecto para si enquanto indivíduo, mas não enquanto género, faltando-lhe a consciência que deriva de ciência. A ciência afirma-se como a consciência dos géneros. Não é por acaso que Feuerbach afirma que “na vida lidamos com indivíduos, na ciência com géneros”, e só “um ser que tem como objecto o seu próprio género, a sua essencialidade, pode tomar por objecto outras coisas ou seres segundo a sua natureza essencial”. Assim sendo, à vida dupla do homem, contrapõe-se a vida simples do animal, dado que, neste último, a sua vida interior coincide com a vida exterior. Por outro lado, no homem a vida interior é a vida em relação com o seu género – entendendo-se como verdadeiras funções genéricas, o pensar, o falar, etc. –, com a sua essência universal, enquanto no animal não há lugar à função genérica sem um outro fora dele. O homem goza dessa função genérica, dado que “é para si ao mesmo tempo eu e tu; pode colocar-se no lugar do outro, precisamente porque tem como objecto, não apenas a sua individualidade, mas o seu género, a sua essência”. É esta essência que leva à consciência do homem a religião em geral, enquanto idêntica à própria essência do homem (consciência de si).
 

Até na consciência do infinito, a religião ao não ser – e/ou ao não poder ser – outra coisa senão a consciência que o homem tem da sua essência, acaba por lhe conferir, também, uma essência infinita. Por outras palavras, parafraseando António José de Brito, a essência do homem sendo “universal, infinita, ilimitada, ao contemplar-se crê existir um ente universal, infinito e ilimitado face a ele, que é Deus. A ideia de Deus é, assim, o começo do autoconhecimento do homem por si mesmo”. Feuerbach, servindo-se do exemplo da “consciência de uma toupeira” – contraposição entre vida dupla do homem e a vida simples do animal –, chama-nos à atenção para as suas vida e essência limitadas a uma espécie determinada de plantas, conferindo-lhe assim um domínio limitado: “Ela [toupeira] diferencia estas plantas de outras, mas mais não sabe”. Por se tratar de uma consciência limitada – mas infalível e segura justamente devido ao seu carácter limitado –, não lhe atribuímos o nome de consciência, mas instinto. Para este filósofo alemão “consciência em sentido estrito ou próprio e consciência do infinito é o mesmo”. Assim sendo, consciência limitada não é consciência. Para Feuerbach, “a consciência é, por essência, de natureza infinita” e a consciência do infinito é a consciência da infinitude da consciência. Ou, por outras palavras do mesmo filósofo, “só na consciência do infinito é que o ser consciente tem como objectivo a infinitude da própria essência”.
Questiona-se a partir daqui, o que é a essência do homem, da qual ele tem consciência, ou o que é que constitui o género, a humanidade propriamente dita do homem? Para Feuerbach é a razão, a vontade, o coração, dado que um homem para ser completo tem que, necessariamente, possuir a força do pensar (luz do conhecimento), a força da vontade (energia do carácter) e a força do coração (amor). Ainda segundo este mesmo filósofo alemão, razão, amor e força de vontade são perfeições da essência humana, a que denomina de perfeições essenciais absolutas. Apesar do homem existir para pensar, para amar, para querer, o fim último é o seu verdadeiro fundamento e origem. Feuerbach afirma, assim, a nossa condição de sermos livres, precisamente pelo facto de pensarmos para pensar, amarmos para amar, querermos para querer. Para ele o fim da razão assenta na razão, do amor no amor e o da vontade, na liberdade da vontade. Logo, um “verdadeiro ser é um ser que pensa, ama e quer. Verdadeiro, perfeito, divino é apenas o que existe em função de si”.
Pena é que alguns dos “detentores do poder religioso” não consigam interpretar as duas faces da atitude religiosa, no “dixi” de Adriana Veríssimo Serrão, interpretando Feuerbach: “por um lado, uma análise de tipo psicológico que desvenda mecanismos profundos da subjectividade inconsciente, como o são o impulso para a felicidade e o anseio da vida eterna, desejos que a imaginação concretiza ao criar as diversificadas imagens das entidades divinas. Por outro lado, a ênfase colocada no sentido prático e existencial da vida humana, na qual o sentimento revela possuir maior força e maior poder que o tranquilo exercício da actividade teórica do conhecimento”.
      É nesse sentido que, tendo em conta a intuição estética ou o estado de espírito moral, continuamos a acreditar que o “Céu” é para todos. Negar esse “direito” é negar a própria existência de “Deus”, onde foram fundidos todos os nomes divinos isolados, concretos e individuais, no único nome do SER!