Friday, April 26, 2013

O ensaísta e filósofo português Manuel Curado e “a consciência no mundo físico”!


“Consciência. Esta é uma das palavras mais importantes de cada ser humano. Porquê? Porque tudo o que fazemos, sentimos ou pensamos tem a ver com ela. Tudo mesmo? Sim, tudo mesmo. Apenas os seres humanos em sono profundo e em coma não têm consciência. Porém, mesmo estas duas excepções aparentes têm muito a dizer sobre a consciência”.

Manuel Curado

Falar do Professor Doutor Manuel Curado, pressupõe sempre alguma elevada ou dimensional veneração intelectual da nossa parte, pelo facto de o considerarmos um dos grandes filósofos da Filosofia da Mente e das Ciências Cognitivas, em Portugal. Ainda que este nosso “presunçoso devaneio” possa parecer suspeito, face à nossa condição peripatética – quantas caminhadas a par pelos corredores das bibliotecas, da academia e encontros de circunstância, mesmo gastronomicamente falando, nos tem aproximado irmãmente –, estaremos em dizer, mesmo contrariando aqueles que defendem a inexistência de filosofia e filósofos portugueses (depreciando de uma forma “ociosa/ignorante”, nomes como, entre outros, o nosso Domingos Tarrozo, Agostinho da Silva, Álvaro de Carvalho de Sousa Ribeiro, António Braz Teixeira, António Quadros, Pe. António Vieira, Bento de Sousa Farinha, Delfim Santos, Edmundo Curvelo, Francisco Sanches, Joaquim de Carvalho, Leonardo Coimbra, Luís António Verney, Pedro da Fonseca, Silvestre Pinheiro Ferreira, Teodoro de Almeida, Uriel Acosta e Vieira da Almeida), que o Professor Doutor Manuel Curado se nos afigura como uma das grandes promessas da filosofia em Portugal. Para além de se dedicar à Ética Biomédica, Filosofia da Mente e à História das Ideias, o nosso bom amigo/irmão Manuel Curado – Professor da Universidade do Minho, Auditor de Defesa Nacional, Doutor “cum laude” pela Universidade de Salamanca, Mestre pela Universidade Nova de Lisboa, Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), Curso de Alta Direcção para a Administração Pública, foi professor visitante em Moscovo, Rússia (“Moscow State Institute of Internacional Relations” e “Moscow State Linguistic University”) e em Pádua, Itália, na “Università degli Studi di Pavoa” – tem trabalhado os seguintes assuntos: história intelectual da língua universal e da tradução automática, o problema da consciência humana e da sua relação com o cérebro, as relações entre a ciência e a religião, estudos de história intelectual europeia e portuguesa, editor de obras de autores passados (nomeadamente o matemático José Maria Dantas Pereira, o lógico Edmundo Curvelo e outros), história da Psiquiatria e história da herança judaica portuguesa na Medicina e na Filosofia (nomeadamente, Isaac Samuda e Jacob de Castro Sarmento) e história das representações literárias da vida mental.


Como se nada mais bastasse para percepcionarmos a sua verdadeira e inultrapassável dimensão intelectual, gostaríamos de acrescentar que o Professor Manuel Curado tem vindo a traduzir o problema difícil da consciência do seguinte modo: por que razão existe consciência no mundo físico quando é pensável a sua não existência? A resposta que o filósofo apresenta é a solução através da dissolução do problema. Para ele, o argumento desenvolve-se em torno da possibilidade de contornar o problema da consciência natural através do conhecimento científico para produzir artificialmente a consciência. De acordo com o Professor Curado, o problema foi solucionado não por que tenhamos respostas claras sobre o que é a consciência, qual o papel da consciência no mundo físico, qual o poder causal da consciência, qual a relação da consciência com o cérebro, mas porque existe a capacidade científica para produzir artificialmente a consciência e de esta, funcionalmente, não se distinguir da consciência natural. Prevê assim um tempo futuro em que será impossível distinguir entre a consciência natural e consciência produzida artificialmente. Esta impossibilidade de distinguir é interpretada como uma condição epistémica normal que ocorre em muitas outras situações: «O manto de ignorância sobre os momentos do passado evolutivo que tornaram a presença da consciência no mundo uma mais-valia para a vida dos indivíduos biológicos não impossibilita que o problema duro seja resolvido por dissolução: a atribuição de função a esse primeiro momento pode ser feita por analogia com a atribuição de função a cada uma das consciências artificiais» (Curado, 2007: 266), qual “Luz Misteriosa” nos ajuda a descodificar “a consciência no mundo físico”.
Outro factor relevante (diríamos até, mais original) a ter em conta no pensamento filosófico do Professor Manuel Curado é aquele em que ele se ocupa das relações entre os crentes e o objecto da sua fé ou crença religiosa, e onde argumenta que a relação entre o crente e Deus deve ser baseada na suposição de que existe Deus. Contudo, esta suposição não implica necessariamente amor a Deus ou respeito a Deus, tendo em conta que a relação entre Deus e os seres humanos é concebida de formas muito originais. Este ilustre filósofo vê Deus como um objecto do mundo, ao lado dos predadores contra os quais lutou o ser humano no seu passado evolutivo, ao lado dos objectos físicos da natureza, ao lado dos objectos preternaturais (situações inexplicáveis que ocorrem raramente na história) e ao lado de seres ou objectos sobrenaturais (representados de modo literário, religioso, filosófico e testemunhal desde a origem da civilização). Para Manuel Curado “os seres humanos são adversários de Deus e de todos os outros seres que existem no mundo físico, preternatural e sobrenatural”.
Para terminarmos, diremos que para o Professor Manuel Curado “um outro modo de pensar a relação dos seres humanos com os objectos que existem no mundo é a actividade científica”, defendendo que a interpretação que se dá habitualmente da actividade científica moderna é muito pobre. Do seu ponto de vista, compreender o mundo é uma descrição muito pobre dessa actividade científica. Para ele, os cientistas descrevem o mundo, evidentemente, mas também o inventam, criando novos objectos, propondo uma contabilidade filosófica entre o mundo natural e o mundo artificial. Do seu ponto de vista, o mundo natural está ficar mais pequeno todos os dias e o interesse último dos seres humanos é rivalizar com Deus: «Porquê tudo isto? Eis a resposta óbvia: porque os seres humanos não estão interessados em deuses, nem no sobrenatural, nem sequer no Deus supremo ou Criador. Se este assunto fosse um negócio, diríamos que as pessoas destas organizações religiosas estão sabiamente interessadas num negócio melhor. Qual é esse negócio? Se não é conhecer Deus, é o quê? Todos sabemos sinceramente a resposta: o que de facto nos interessa é sermos nós próprios deuses e, já agora, sermos melhores do que Deus» (Curado, 2009: 96) – Simplesmente, sublime!... E fiquemo-nos por aqui, já que, como diria Álvaro Balsas, “a ciência e a fé em Deus compõem duas visões do mundo e da realidade, do cosmos e da vida, que se apresentam como duas instâncias, mais que competidoras, verdadeiramente incompatíveis e em múltiplo conflito”.
Obrigado Professor Curado, por tudo o que tem feito por nós e pela permanente procura de respostas para “a consciência no mundo físico”!  

Friday, April 19, 2013

Nos tempos que correm: “Sabedoria sem Respostas” e as respostas em Daniel Kolak e Raymond Martin!


“Todo o homem tem duas espécies de educação: uma que lhe é dada por outrem, e outra, mais importante, que ele dá a si mesmo”.

Gibson

Se há livro que nos marcou profundamente, no início dos novos milénio e século, foi precisamente aquele nos fala de “Sabedoria sem Respostas: Uma Breve Introdução à Filosofia”, da autoria de Daniel Kolak, professor na Universidade de New Jersey e de Raymond Martin, da Universidade de Maryland – ambos autores de uma outra pérola: «The Experience of Philosophy» –, obra que viria a ser traduzida do original «Wisdom without Answers: A Brief Introduction to Philosophy» (2002) por Célia Teixeira, e publicada pela Temas & Debates, em 2004.
Nesta maravilhosa obra – a nosso ver, desculpem-nos a premeditada insistência cognitiva, também aconselhável a políticos e religiosos –, os autores começam por realçar a noção errada que muitas vezes se faz da Filosofia como sendo apenas um corpo de conhecimento, onde se espera receber informação, em vez se pensar pela própria cabeça. Assentes nessa noção, difundem o propósito em contrariar o “queixume” de muitos filósofos, face à desmotivação dos seus estudantes, quando os sentem inaptos – ou muito pouco preparados – “para lidarem com a matéria usada nas disciplinas introdutórias”. Ainda, segundo os autores, importa contrariar a afeição pelas respostas feitas, de forma a prepará-los para darem novo sentido às coisas. E, logo a seguir, reafirmam a nossa condição de crianças, “impertinentes” nas perguntas, com total abertura, muitas vezes irrespondíveis, quando procurávamos e queríamos sabê-las: Sabíamos que não sabíamos as respostas, e queríamos sabê-las. À nossa condição de espanto, enquanto crianças, relegamos a curiosidade infantil para a estrutura de respostas que silencia a nossa capacidade de agir, só porque, inevitavelmente, nos tornamos adultos. Por isso, muitas dessas perguntas ficaram por responder: De onde viemos? Qual o objectivo da nossa vida? Qual a natureza do Universo em que vivemos? O que nos acontece quando morremos?


Prosseguindo o raciocínio dos autores, constatamos a aparente solidez das nossas crenças, hipoteticamente transmissoras de conhecimento – assentes em respostas que escondem mais do que revelam –, mas não de sabedoria. Numa alusão clara ao pensamento de Sócrates, Kolak e Martin, chamam a nossa atenção para o principal obstáculo ao estudo da filosofia, quando recorremos ao pressuposto de sabermos de mais. O objectivo do livro vai, precisamente, no sentido de trazer os leitores “para o domínio da filosofia como o faria Sócrates se ainda estivesse entre nós: afastando-o das respostas durante o tempo suficiente, para que possa ter a experiência da sabedoria do desconhecedor”. Daí, o sentido de fazer da filosofia uma actividade e não um corpo de conhecimentos, cultivando a perícia, ou seja, “a habilidade para nos vermos a nós próprios e ao mundo de muitas perspectivas diferentes”. Impelem-nos mesmo em sustentarmos o objectivo de nos desenvencilharmos (por completo) da dependência das respostas. Abordam, também, o sentido de «perspectiva» como “uma interpretação que vai para lá dos factos e que se apoia nos pressupostos, convicções ou valores da pessoa que faz a interpretação”. E dão o exemplo do feto de três meses que é intencionalmente abortado, levando a que se equacione o objecto de interpretação em duas perspectivas, a do assassinato e uma outra assente em dois pressupostos diferentes: o feto não era uma pessoa, na melhor das hipóteses era uma pessoa em potência, e a morte de pessoas em potência nem sempre é um assassínio. Dão outros vários exemplos onde são postos em confronto os pontos de vista dos outros – os quais nos custam admitir – com os nossos, os que julgamos como sendo a única janela válida para a “verdadeira realidade”. A filosofia é-nos “revelada” por estes dois autores, em forma de nos mostrar como identificar as limitações dos nossos próprios pontos de vista e a sair de nós próprios.
A nota introdutória, por exemplo, culmina com o relato de uma lenda antiga de três homens sábios de três impérios diferentes que, um dia, se encontraram à entrada de um reino pacífico. Cada um deles, em face de uma guerra tripolar – apesar dos seus sábios conselhos, tinham levado à ruína dos seus impérios –, tinha vindo à procura de asilo. A rainha do reino pacífico colocá-los-ia perante um enigmático teste de adivinhação da cor de um ponto que previamente havia sido pintado nas suas testas, sentenciando a não resolução de tal enigma pela decisão de nenhum estar a altura de ser sábio no seu reino, sendo, por isso, decapitados. Tudo se resume à prática de observação, não havendo forma de conseguir descobrir respostas, olhando apenas para os nossos pontos de vistas. Os autores escolheram esta lenda como forma de nos chamarem à atenção para a preventiva excessividade de raciocínio, aliada à ludibriável desconfiança em relação aos outros; para a sensação do enigma se tornar insolúvel, só porque queremos inflectir apenas sobre o nosso ponto (de vista); e, finalmente, para resposta racional, obtida pela observação dos pontos (de vista) dos outros. À pergunta da rainha, de qual deles teria um ponto verde pintado na testa, tornar-se-ia sábio do reino, aquele que vislumbrara a realidade de todos os pontos serem vermelhos.
Em catorze capítulos – Onde?, Quando?, Quem?, Liberdade?, Conhecimento, Deus, Realidade, Experiência, Consciência, Cosmos, Morte, Sentido, Ética e Valores –cheios de vivacidade, dos quais destacamos sete (Onde? – Capítulo primeiro, coloca-nos a nós leitores na interactividade de sabermos onde estamos, onde fica a Terra, o nosso sistema solar, o Universo, sendo que este último, não existindo mapas, confere-nos, contudo, a sua localização por dentro dele estarmos colocados; Quando? – os autores, equacionados pela resposta óbvia do leitor em dizer aqui e agora, reformulam o quando é o agora, quando é o presente, estampando os cinquenta séculos de história como um pequeno segmento de tempo dentro do espaço tempo de aproximadamente quinze milhares de milhões de anos, que é a idade actualmente calculada do Universo; Quem? – sendo que esse “quem” somos nós: Quem é o leitor? E de uma pergunta simples transformamo-la num enigma complexo, só porque fazemos questão em dizer o nosso nome, a nossa idade, os nossos interesses, a nossa profissão, o local onde vivemos, etc.; Liberdade – Porque razão está a ler isto? É indiferente a razão que nos levou a ler este livro, mesmo que alguém o tenha dito para o fazer; Conhecimento – O leitor tem várias crenças. Mas quais das suas crenças é conhecimento, se é que alguma o é? A ilusória autoconfiança do apostador de corridas de cavalos quando acredita ardentemente que o seu cavalo vai ganhar; Deus – Poderá o conhecimento de que Deus existe fornecer a ponte necessária entre a experiência e a realidade – entre os nossos estados mentais subjectivos e o mundo exterior?; Ética – Como podem as autoridades encarregues do seu condicionamento saber que o leitor é mau por natureza? Numa escrita escorreita, Kolak e Martin apontam para a realidade presente de pais, professores, legisladores, políticos e líderes religiosos estarem a treinar-nos para nos ajustar ao mundo que eles herdaram dos seus pais, dos seus professores, dos legisladores, dos políticos e dos líderes religiosos, os quais por sua vez os herdaram das suas autoridades e assim por diante), qualquer um de nós aprenderá a evitar as respostas fáceis e será conduzido ao mundo fascinante do pensamento filosófico. Serão examinadas algumas das questões fundamentais. De facto, na qualidade de leitores, corroboramos da ideia que nos fica da abordagem frontal das perguntas, permitindo-nos através dela explorar os modos como elas (as perguntas) nos afectam: Deus existe?; Porque existe o Universo?; O que é o eu?; Qual o significado da vida?; Que é a morte?; Dispomos de livre-arbítrio?; Que é o conhecimento?; Que significa a moral?, etc., etc.
           As respostas preconcebidas são abandonadas logo à partida, face à aprendizagem no pensar de forma crítica “nas ideias filosóficas que podem transformar a sua vida”. A de todos nós, diremos nós, mesmo que alguns se assumam no “não assunto” de distinguirem a relação entre valores e factos!

Saturday, April 13, 2013

“Fé e religiosidade popular” dão mote a uma obra publicada em Ponte de Lima!


“Todos sabemos que património só o é quando as populações se nele revêem, quando o mesmo faz parte das suas representações, pela memória, tradição e identidade, criando correspondências, muitas vezes, de prestígio num sentido que revela poder e sentimento de pertença”.

Victor Mendes

Apesar de termos “entre mãos” uma série de livros para apreciar, e dentro das nossas limitações – porque nos escusamos em tocar todos os instrumentos ou de cairmos na promiscuidade do “sapateiro que quer ir além da chinela” – fazermos o nosso comentário possível, cauteloso e devidamente ponderado, não resistimos à tentação de escrevermos algo acerca de uma obra editada pelo Município de Ponte de Lima, e que, recentemente, nos foi gentilmente oferecida – com a anuência da presidência – pelo vereador do Pelouro da Cultura, nosso particular amigo Franclim Castro e Sousa. Na nossa modesta opinião – ainda que revestida de alguma subjectividade, porque outros tê-la-ão de maneira diferente –, trata-se de uma obra esteticamente interessante, reproduzindo uma abordagem temática sobre «Fé e religiosidade popular em Ponte de Lima», com oportuna incidência no valioso acervo patrimonial limiano, nomeadamente “cruzeiros, vias-sacras, nichos e alminhas”. São autores da referida obra: Carlos A. Brochado de Almeida (Coordenador), Mário Carlos Sousa Gonçalves e Ana Paula Azevedo Ramos B. de Almeida. A Coordenação Editorial esteve a cargo de Ovídeo de Sousa Vieira.


É evidente que, para além da nossa positiva impressão estética da mesma obra, muito pouco mais teremos a dizer acerca da mesma, já que não se trata uma obra poética ou literária, motivadora de interpretações a figuras de estilo ou inédita criatividade narrativa. Cientificamente falando, ficamo-nos pela sensação de estarmos perante aquilo que o presidente do município, Victor Mendes, classifica de “um extenso rol de património”, onde tudo se apresenta e conjuga de uma forma clara, cabendo-nos apenas comungar das suas palavras – decalcadas na certeza do sentimento de pertença, que “se espelha a verdadeira ligação à Terra, o apego das Gentes, o pulsar das vivências quotidianas…” –, quando afirma que “este trabalho é disso um excelente testemunho, expondo um extenso rol de património que engloba os cruzeiros, as vias-sacras, os nichos e as alminhas que pululam em todas as freguesias do concelho”.
Gostamos de uma forma particular da introdução do Professor Doutor Carlos Alberto Brochado de Almeida, director do Museu dos Terceiros [Mute], Doutor em Pré-História e Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, um dos mais activos investigadores de Arqueologia, por todo o Norte do País, particularmente nas bacias dos rios Minho, Lima e Cávado, consultor científico das câmaras municipais de Ponte de Lima, Barcelos e Vila Nova de Cerveira, de quem conhecemos e possuímos dezenas de trabalhos ligados à arqueologia, e com quem tivemos o prazer de conversar aquando das escavações em S. Paio de Antas (Agra), Esposende, onde visualizamos o desconforto perante a incapacidade reivindicativa da arqueologia – dir-nos-iam que tudo o que havia para fazer estava feito e as obras do “IC1” (hoje A28) iriam prosseguir em nome do futuro –, onde nos faz uma retrospectiva histórica/arqueológica da simbologia da morte, espelhada na cruz, desde os tempos imemoriais, iniciada no Médio Oriente, passando por Roma, Alta Idade Média até aos nossos dias. Apesar de nesta introdução, o Professor Brochado de Almeida fazer jus ao seu estatuto de “empático comunicador”, como é conhecido entre os seus discípulos e admiradores, poderia ir um pouco mais além, na vertente antropológica e iconográfica, das crenças ou da adaptação física – dos ora estudados (ou catalogados) cruzeiros, vias-sacras, nichos e alminhas – dos ancestrais cultos do “Homo religiosus”, também estudado por Mendes Corrêa, em “Os povos primitivos da Lusitania”, publicado em 1924: “Nos cultos, superstições, amuletos, ornatos e outros costumes (…)”. Mesmo assim, deliciamo-nos com algumas das descrições, para nós, circunstancialmente interessantes em termos de “pontilhados cenários”, tomados na essência do seu significado de conjunto das vistas e dos acessórios que ocupam o local (e não palco) de uma representação, neste caso religiosa: “Não há paróquia do Minho e muito menos da Ribeira Lima que não tenha as suas alminhas. Muitas ou poucas, elas começaram a povoar as bermas e as encruzilhadas dos caminhos que desde o século XVI cortavam e serviam o território, fosse ele o agro-florestal ou o inter-regional. Hoje é fácil encontrá-las, perdidas por velhos caminhos já sem servidão ou deslocadas para junto dos novos traçados que a política viária do fontismo liberal idealizou e foi concretizando a partir da segunda metade do século XIX”. E ficamo-nos por aqui, dado que se impõe a todo o limiano que se preze, a aquisição desta obra e subsequente apreciação, sempre com a consciência de que em História não há versões finais, nem certezas inabaláveis.       
          Para terminarmos, apenas um reparo sem grande relevância: algumas das fotografias, mereciam melhor tratamento. De resto, os nossos parabéns aos autores, ao coordenador e ao Município!