“A
vontade enérgica é uma esperança meia realizada”
Camilo Castelo Branco
Foi com uma “vontade
enérgica” que participamos no último dia das jornadas culturais do
“N-COOLTURA”, projecto cultural protagonizado, de forma pioneira, por três
freguesias vianenses do vale do Neiva: Vila de Punhe, Mujães e União de Freguesias
de Barroselas e Carvoeiro, sendo que as autarquias envolvidas compreendem a
importância da cultura no desenvolvimento intelectual do indivíduo e da
comunidade e, nesse sentido, assumem o compromisso de desenvolverem, até 2017,
diversas actividades circunscritas ao mesmo projecto. Segundo nos apercebemos,
embora o projecto seja marcadamente de âmbito cultural, numa visão integrada e
complementar, admite a possibilidade de outros temas serem expostos, como, por
exemplo, o ambiente, o desenvolvimento, a educação e o desporto. Há a realçar o
facto de o Núcleo Promotor do Auto da
Floripes ter tido um papel importante nesta fase inicial deste mesmo
projecto que, enquanto projecto didáctico, se pretende aberto e
multi-participativo, obrigando “a uma ligação umbilical com a comunidade
escolar e a um contínuo envolvimento do rico tecido associativo e institucional
que abrange as três comunidades” – citamos, dos objectivos do “N-COOLTURA”.
Imbuídos pelo espírito
de cooperação, ainda que como mero espectador, preenchemos a parte da manhã de
15 de Fevereiro de 2014 (Sábado), ouvindo Alexandre Parafita, Professor da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, escritor e investigar, através de
uma excelente palestra subordinada ao tema “Tradições, lendas e mitos: o que
vale o património imaterial de um povo?”, indo ao encontro do “slogan” destas
jornadas culturais: «O IMATERIAL E O PATRIMÓNIO LOCAL». Excelente dissertação,
complementada com uma exposição filatélica: «O património do Vale do Neiva» e a
leitura da “Lenda do Santinho”, da autoria da jovem estudante Andreia.
Da esquerda para a direita: Manuel Rego, Tarcísio Maciel, Porfírio Silva, António Costa e Manuel Ribeiro |
Da parte de tarde,
rumamos até à acrópole do Castro de Monte de Roques, povoado fortificado com
ocupação da época do ferro, de planta ovalada, constituído por cinco cinturas
de muralhas, com cerca de seis hectares, tendo em alguns troços aproveitado
para a defesa o declive natural do terreno. Noutras zonas, como por exemplo no
sector N., parece que as muralhas eram reforçadas. Casas de planta circular,
com pavimento de terra batida e fogueira central; alguma delas têm aparelho
exterior distinto do interior e ficam junto a um arruamento lajeado com conduta
lateral para a água. Dentro da primeira cintura de muralhas existe uma fonte de
mergulho, bastante obstruída; o Penedo do Galo e o da Pegada do Santinho,
cavidades que deram aso à lenda de São Silvestre e seu cajado; e a tão
conhecida Boca da Serpe que foi, segundo tradição, a entrada da cisterna onde
os castrejos se abasteciam de água, qual “visita pedagógica”, magistralmente
guiada pelo Arqueólogo Tarcísio Maciel, nos faria recordar o grande vulto do
vale do Neiva, Leandro Quintas Neves (1895-1972), os seus trabalhos, assim como
as comunicações apresentadas em vários congressos nacionais e internacionais
sempre bem acolhidos, tanto pela oportunidade como pela sua qualidade. Toda
esta região, Leandro Quintas Neves palmilhou de uma forma incansável registando
todos esses passos ao ínfimo pormenor, com a mestria que lhe era peculiar,
transpondo para os seus trabalhos toda a envolvência que caracteriza e enforma
o «modus vivendi» do homem alto-minhoto. Escreveu um dia o Coronel Alberto
Sousa Machado, a seu propósito: «Como
escritor, apesar do seu muito saber, foi um modesto sem qualquer presunção ou
vaidade. O seu carácter de uma honesta sinceridade vincada tanto o seu proceder
nas relações humanas como os seus escritos fruto de um estudo meticuloso e
persistente. É essa faceta característica de todos os seus escritos no ramo das
ciências a que se dedicou, a arqueologia e a etnografia». E como bem
recordaria Tarcísio Maciel, foi Leandro Quintas Neves o pioneiro, que trouxe
até nós, desenterrando do passado, o Castro de Roques. À acrópole desta grande
“metrópole” castreja, guiados pela grande mestria de Leandro Quintas Neves,
subiram grandes vultos da arqueologia e da etnografia de então, tais como:
Coronel Sousa Machado, Abel Viana, Prof. Doutor Santos Júnior, Tenente Coronel
Afonso do Paço, José Rosa Araújo, entre outros.
E porque, ao falarmos
do nosso passado, estamos a falar do nosso futuro, já não era sem tempo de
começarmos a ter mais respeito pelo património (material e imaterial) da nossa
região, de modo a acreditarmos num futuro melhor e proficuamente COOLtural!
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