Friday, March 28, 2014

“MJM” volta a sensibilizar para o ambiente natural da Zona Húmida da Veiga de S. Simão!...

“Ladeando as linhas de água, em charcos, brejos e/ou pauís desenvolve-se um conjunto de espécies vegetais denominadas «formações ripícolas», que dão abrigo e alimento a muitas espécies de fauna, tais como anfíbios, aves e mamíferos raros”

EIRA (Associação de Estudos e Intervenção Regional Para o Ambiente)

Já lá vão algumas décadas a esta parte que participamos em inúmeras iniciativas, através de visitas e observação de campo, com a vista à classificação da Zona Húmida de S. Simão, como Zona Protegida a nível Europeu. Daí, ao recebermos o convite do Movimento Jovem pela Mudança (MJM) para a sua brilhante iniciativa «BIO+ Conferência, Ambiente e Agricultura», iniciativa essa que teve lugar, no pretérito dia 21 de Março, na Sede da Freguesia de Mazarefes e Vila Fria, e que contou com a presença dos ilustres palestrantes: Eng.º Horácio Faria – “A Zona Húmida de S. Simão no contexto do Noroeste Ibérico”; Eng.ª Marisa Duarte – “A sustentabilidade do Ecoturismo”; Eng.º Francisco Alves e José Emílio – “O PERSU 2020 e a Resulima”; e, Eng.º André Vasconcelos – “A importância da formação para o sucesso do empresário agrícola”, prontamente acedemos a tão honrosa deferência. Comunicações perfeitas, excepcional articulação entre o ambiente, ecoturismo, tratamento de resíduos e desenvolvimento económico através da agricultura, dariam uma irrepreensível sequência ao propósito para a sensibilização ambiental, dado que a zona húmida de S. Simão é um biótopo integrante na rede nacional dos “sítios de interesse europeu para a conservação da natureza”, como fez questão de salientar o Eng.º Horácio Faria.


É evidente que não é nosso propósito desenvolver aqui, amiudamente, as intervenções, mesmo que a sistematização se pudesse encontrar num “ponto-de-fuga”, tendo em conta ao espaço disponível e/ou tolerável neste tipo de crónicas, iremos falar um pouco da “Zona Húmida de S. Simão no contexto do Noroeste Ibérico”, em anuência (precedida de uma fraterna cumplicidade) à excelente explanação do Eng.º Horácio Faria. De facto, de acordo com inúmeros estudos efectuados por instituições ligadas ao Ambiente, a cartografia geológica da área em questão, confirma-se a natureza predominantemente aluvial desta unidade física, sendo de aceitar que o actual curso do ribeiro de S. Simão (com nascente em Subportela e o contacto com leito do Lima ocorre em S. Simão da Junqueira, Mazarefes) seria no passado uma antiga margem do Lima e, dessa forma, haveria um estuário mais aberto e profundo por volta dos dez mil anos.
Com cerca de 450 ha de terrenos alagados e aproximadamente 200 ha de campos e matas dispersas e envolventes, e com uma ligação “umbilical” ao meio estuário do Lima, topograficamente, a zona húmida de S. Simão é uma planície, facilmente inundável no Inverno, em consequência da subida de caudal do rio ou de situações de cheias, possuindo locais deprimidos onde no Verão permanece uma toalha líquida adjacente ao ribeiro, como é o caso do denominado local das “Lagoas de Vila Franca”, onde foram efectuadas intervenções de grande monda (nas quais, esporadicamente, colaboramos), face à falta de civismo de alguns “psicopatas” de circunstância, que das lagoas faziam lixeira.
Tomando por base um estudo efectuado nos finais dos anos oitenta, princípios dos anos noventa, do século passado, estaremos em citar que “a água como factor do ambiente potencializou uma evolução da flora e da fauna mais diferenciada e naturalizada nesta zona húmida, na medida em que os seus terrenos alagadiços quase sempre impunham condições muito adversas para certas práticas agrícolas e culturais. Perante os esforços de humanização deste espaço, de que a tentativa de cultivo do arroz foi exemplo, subsistem ainda hoje campos de cultura (de milho, feijão, legumes e prados, de vinha, etc.), em mosaicos traçados pelo labor humano, mas coexistindo – numa aparente harmonia – e competindo com várias espécies naturais/residentes no decurso de séculos. / Ora é esta natural competição que presentemente interessa manter porque dela brotam espécies florísticas selvagens (muitas delas adormecendo no solo em forma de sementes e/ou rizomas), mas que logo despontam quando certas condições como a ausência e/ou fraca alteridade do meio pelo homem ocorre” – como tão bem corroborou o Eng.º Horácio Faria na sua excelente intervenção.


Em 1995, a EIRA conjuntamente com outras associações propôs à Câmara Municipal de Viana do Castelo um projecto de «Valorização da Zona Húmida de S. Simão e Lagoas de Vila Franca Como Espaço Para a Educação Ambiental», para efeitos de financiamento, ao abrigo do Regulamento de Apoio a conceder pelo IPAMB às ADAS’s. Tal candidatura foi objecto da devida apreciação e mereceu, em consequência, a sua aprovação oficial, através de contrato de financiamento para concretização e execução de tal projecto. Por sua vez, a Câmara Municipal, em 1996, face ao empenhamento e vontade manifestada pelas associações, elaborou um projecto de classificação da Veiga de S. Simão como área de paisagem protegida a apresentar junto do ICN (Instituto de Conservação da Natureza), sendo que este Instituto viria a manifestar a certeza de que a Veiga de S. Simão tinha um valor natural que transcendia o interesse local e regional, enquadrando-se nas áreas a proteger em termos europeus.
Em 2001, a mesma Câmara Municipal de Viana do Castelo desenvolveu um projecto cujas finalidades principais visavam a definição e o ordenamento de percursos de observação dos valores presentes nesta zona húmida; a proposta de concepção de uma sinalética para orientar os visitantes; a possibilidade de se implementar acções ou pequenas infra-estruturas de apoio à observação e/ou vigilância da área natural; e a produção de material de divulgação sobre este biótopo. Na altura, chegou-se mesmo a fazer uma sessão de esclarecimento e uma exposição na Casa do Povo de Mazarefes. Infelizmente, do papel à prática, tudo ficou em “banho-maria”.            
 Passados todos estes anos, o alerta, sem que antes tivéssemos falado a esse respeito, foi deixado pelo Eng.º Horácio Faria: “Abrem-se grandes possibilidades de no próximo Quadro Comunitário de Apoio este espaço Natural vir a ser financiado, tendo subjacente a Protecção e Valorização da Veiga de S. Simão”.
Haja vontade de reactivar velhos anseios, passando do papel à prática. Com uma infra-estrutura de raiz, aí sim, poder-se-iam fazer regressar os achados arqueológicos navais, de que são exemplo, as pirogas encontradas no estuário do Lima (século IX/X).

A articulação entre o Homem e a Natureza faria o resto!... 

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