Friday, April 17, 2015

Conferência Internacional «New Renaissance in Europe» leva-nos a reinterpretar património cultural!...

«O imenso património cultural deixado pelo Renascimento na Europa é reconhecido internacionalmente como uma marca da Europa para o mundo. Esse património é um dos pilares fundamentais da identidade e da consciência colectiva europeia.»

RenEu: New Renaissance in Europa

No dia 24 de Março de 2015, tendo como palco a Casa das Artes, da cidade Invicta, participamos na Conferência Internacional «RenEU: New Renaissance in Europe», no âmbito do projecto homónimo, coordenado pela Região da Toscana, Itália, em parceria estratégica com outras quatro instituições – Patronato de la Alhambra y Generalife (Espanha), Associação Villa Decius (Polónia), Mision Val de Loire (França) – e promovido em Portugal, também como parceiro, pela SETEPÉS em parceria com a Direcção Regional da Cultura do Norte (DRCN), com o intuito de resgatar os fundamentos necessários para a reflexão e construção de um novo processo cultural – um novo renascimento – que se alastre por toda a Europa e reforce o sentimento de pertença e a consciência de futuro conjuntos dos Europeus.


A manhã foi preenchida pela apresentação do projecto, com especial destaque para o itinerário português, “Monastery of Serra do Pilar: A Window on Europe”, sendo que o Mosteiro da Serra do Pilar, parte do Centro Histórico do Porto Património Mundial da Humanidade UNESCO, foi o local escolhido para acolher o itinerário português do projecto pelas suas características renascentistas únicas na região e na Europa. Ficamos com a sensação, principalmente quando vivemos um período marcado pela descrença no futuro e insatisfação com o presente, que o mesmo projecto vai no sentido de se revisitar e reinterpretar o Renascimento à luz da sua dimensão Europeia, principal propósito do projecto e da conferência.
Estaremos nós, cidadãos Europeus, a fazer o melhor uso deste recurso? – A pergunta ficou no ar.
Assente em ideias do Renascimento com a transposição para a Europa contemporânea, ouvimos Pedro Galera Andreu, Historiador de Arte e Professor Catedrático da Universidade de Jaén, falar do renascimento europeu como o nascimento do mundo moderno, perspectivando um modo de pensar mediante a observação, através das técnicas de perspectiva da Arte, nas perspectivas de representação; representação do homem como «microcosmo» contendo em sua perfeita proporção da escala maior do Universo; ordem arquitectónicos clássicos ajustados à variedade de género; o mundo antigo, exemplo de harmonia entre as Ciências e as Letras; a ânsia do conhecimento, reforçando a ideia das bibliotecas como novos templos do saber; a Europa como centro, periferia e migração de homens e ideias; principais centros artísticos; a influência de Maquiavel no modelo de Estado dos reis católicos; passando pelo pintor português Francisco da Holanda, que ao viajar para Itália acabou por escrever um Tratado sobre Artes Plásticas “Da Pintura Antiga” (1548), e dos mestres d’obras portugueses que trabalharam em Espanha.


O segundo orador da manhã, Gian Bruno Ravenni, Director Regional de Cultura – Região da Toscana, apresentou a ideia de fazer a proposta de uma iluminação para a Europa, recordando os autores da Renascença, não como um passado morto. No fundo, a ideia europeia com as suas tradições do passado, abrindo-as a novas filosofias com fins antropológicos. Reforçou, ainda, o objectivo da ideia da migração intelectual, através dos pensamentos autónomos e originais, referindo-se, também ele, a Maquiavel; o fenómeno da Europa “RenEU”, assente num novo programa «Europa Criativa» e no debate sobre a Renascença, como base da nossa cultura europeia comum. Em suma, para Gian Ravenni, a metodologia tem sido fazer a ponte, através do debate, entre a Renascença e a Europa Contemporânea, ligando-a a cinco espaços físicos, lugares únicos, cidades únicas, patrimónios únicos – itinerários culturais: Florença (Itália), Granada (Espanha), Krakon (Poland), Porto (Portugal) e Loire Valley (França).
Susana Abreu, arquitecta e investigadora na Universidade do Porto, fez apresentação do Mosteiro da Serra do Pilar, enquanto monumento renascentista, como uma encruzilhada de saberes e sinal de mudança, e Elvira Rebelo, Técnica Superior de História da Direcção Regional de Cultura do Norte, o Itinerário “Monastery of Serra do Pilar: A Window on Europe”, salientando ligações do projecto, pessoas, lugares, como objecto do humanismo renascentista e porta de entrada para o Património do Norte de Portugal. Para nós, enquanto debate, na nossa curta intervenção, apresentamos a nossa ideia dedutiva em “dez mandamentos patrimoniais”: 1 – Arquitectónico; 2 – Cultural (Pontes); 3 – Religioso (Teológico); 4 – Filosófico; 5- Itinerários; 6- Debate sobre o Renascimento numa transposição para a Europa Contemporânea; 7 – Migração de pessoas e ideias (Cultura Humanista do Renascimento); 8 – Corpo e Mente da Europa; 9 – Espaço monástico como uma visão do mundo, lugar de razão e de imaginação; 10 – Cosmopolitismo.  
A parte de tarde foi preenchida com um debate «No Rosto da Europa», no qual participaram Bem Schofield, Professor Universitário no King’s College London e Membro do Grupo Estratégico da A Soul for Europe; Rémi Deleplancque, Project Manager para a Educação e Cultura da Mission Val de Loire; Gian Bruno Ravenni e Elvira Rebelo, tendo como moderadora Susana Abreu. Algumas questões e conclusões importantes retivemos deste interessante debate: Como definir e quantificar o valor patrimonial; como podemos desenvolver esse património; a cultura vista como optativa e não essencial; a Europa a precisar de um paradigma de mudança; o Renascimento superou as eras obscuras, contudo, não sabemos o suficiente sobre o mesmo; o aspecto cultural e menos económico; o património como recurso, quando a cultura e o património já não estão nas políticas da Europa, levando-nos a que já não se possa entrar pela porta, mas sim pela janela; a construção de uma Cultura Europeia e não Nacional; construir propostas por toda a Europa, não sendo possível construir uma entidade estatal sem uma Nova Narrativa; a afectividade dos lugares e dos objectos, não se protege por decreto; a ética da hospitalidade; o Património e Cultura estão carregados de formas e de objectos, nada mais; problema do financiamento dos projectos, quando estão a cortar nas universidades, nas vertentes da ciência e da cultura; o acesso cultural é um projecto político e não tem passado apenas de um ideal, levando ao fracasso.
        Deduzimos, desta interessante Conferência Internacional, que o acesso ao Património e à Cultura apresentasse como um trabalho árduo, mas, infelizmente, obstruído por uma burocracia economicista, para o qual não se nos apresenta uma réstia de esperança. No entanto, continuamos a acreditar que “o património cultural pode e deve estar no centro do debate e da reflexão sobre a cidadania europeia e do projecto europeu”. Haja vontade, por parte dos políticos!

No comments: