Monday, March 30, 2015

Sandra Dias Fernandes traz a Viana do Castelo mensagem de esperança!...

«Penso que chegamos a um momento-chave da história em que é inultrapassável colocar o cidadão no centro do projecto de integração europeia. As políticas de austeridade vieram mostrar como um afastamento dos valores europeus põe em causa alicerces da EU que podem ser resumidos em duas palavras: compromisso e solidariedade.»

Sandra Dias Fernandes

Interagindo com o nosso colega Jorge Silva, numa organização da Câmara Municipal de Viana do Castelo (Biblioteca Municipal de Viana do Castelo), chegamos ao final da actividade integrada no projecto «Uma Nova Narrativa para a Europa», através da metodologia «CAFÉ EUROPA», onde foi dada a oportunidade aos cidadãos, residentes no concelho de Viana do Castelo, à participação activa pela via da discussão de ideias, em ambiente descontraído, por forma a contribuir para uma nova abordagem ao rumo da União Europeia. Sandra Fernandes, especialista em Questões Europeias, foi a nossa convidada para moderar o último «Café Europa», que teve lugar no pretérito dia 13 de Março, assente em duas pertinentes questões: A União Europeia: um passado, um presente… um futuro? A União Europeia: tem um futuro?
Recorrente da sua vastíssima experiência, Sandra Fernandes levou-nos até ao passado, abordando os principais aspectos na dinâmica alargamento/aprofundamento; inovação histórica, através da noção clara de “ideia de paz positiva”, perpassando pelos Direitos Humanos nas vertentes interna e externa, as quais, segundo ela, estão intimamente ligadas devido a uma percepção da segurança enquanto Segurança Humana (Direitos políticos, económicos e sociais, tomando como exemplo, emprego e dignidade); o paradoxo crescente que nos traz para o presente do projecto de integração europeia: o afastamento do cidadão da acção da União Europeia, tanto a nível externo como interno. Com os pés bem assentes no presente, induziu-nos à necessária reflexão sobre o facto da EU se apresentar como portadora de valores próprios, europeus, que considera universais, e enquanto actor normativo e modelos de estado social, projectando o futuro com um acto criativo, tal como foi um acto criativo político a própria criação da EU, pelos pais fundadores: «Hoje, aqui, em Viana do Castelo, temos a oportunidade de sermos protagonistas face a mais uma crise da União Europeia, a qual sempre conseguiu ultrapassar pelo passado. Penso que o maior desafio consiste em recuperar um espírito de solidariedade agastado pelo ressurgimento de algum egoísmo nacional (não se alcançam soluções duradouras quando, para problemas comuns, divergem as soluções apontadas). Só os cidadãos europeus são capazes disso hoje com lideranças carismáticas para os levar. Ao debatermos hoje neste espaço, julgo que vamos contribuir, um pouco, para o nosso sentido de pertença ao projecto europeu» – disse a mesma ilustre especialista.
   

Principalmente para os mais distraídos, diremos que Sandra Dias Fernandes é professora na área de Relações Internacionais e Ciência Política da Universidade do Minho desde 2001. É doutorada em Ciência Política, com especialização em Relações Internacionais por Sciences Po (Paris). Recebeu o Prémio Jacques Delors 2005 pela investigação sobre a relação entre a União Europeia e a Rússia, com enfoque nas dimensões políticas e de segurança (livro: Europa (In)Segura: União Europeia, Rússia, Aliança Atlântica: A Institucionalização de uma Relação Estratégica. Lisboa: Principia, 2006). Assume, actualmente, a direcção da Licenciatura e do Mestrado em Relações Internacionais, sendo também Directora-adjunta do Departamento de Relações Internacionais e Administração Pública, da Universidade do Minho. Colaborou com a Embaixada de Portugal junto da Federação Russa durante a Presidência Portuguesa da UE no segundo semestre de 2007, em Moscovo. Em 2009, participou numa sessão de formação, em Riyadh (Arábia Saudita), sobre a política externa da UE, organizada para diplomatas e altos funcionários dos países do Golfo Pérsico. Contribuiu, também, para a “EU Study Week”, organizada pela Delegação da Comissão Europeia em Voronezh (Rússia). Em 2010, participou numa mesa redonda, em Genebra (Suiça), com especialistas e autoridades oficiais para discutir as perspectivas para a arquitectura de segurança europeia e a proposta do presidente russo Medvedev acerca de um novo tratado de segurança.
Foi Auditora do Curso de Defesa Nacional do Instituto da Defesa Nacional (IDN), em 2003-2004. Em 2007, foi convidada pela Universidade Livre de Bruxelas (ULB) para lecionar em unidades curriculares na área de segurança europeia e das relações UE-Rússia, no âmbito de pós- graduações. Foi também docente convidada pelo Instituto Estatal de Moscovo (Universidade) de Relações Internacionais (MGIMO), pela Universidade de Economia de Izmir (Turquia), e pela Universidade de Ljubljana (Eslovénia) para ministrar palestras sobre as mesmas temáticas. De 2007 a 2009, foi “Visiting Research Fellow” do Centre for European Policy Studies (CEPS), em Bruxelas.
Os seus interesses de investigação centram-se nos estudos europeus, no espaço pós-soviético, na relação entre a União Europeia e a Rússia, na análise de políticas externas e na segurança internacional. Tem um conjunto alargado de obras publicadas, livros, capítulos de livros e artigos científicos, a nível nacional e internacional, incluindo por exemplo a recente publicação: Putin’s Foreign Policy towards Europe: Evolving Trends of an (Un) Avoidable Relationship. In Roger Kanet and Rémi Piet (eds). Shifting Priorities in Russia’s Foreign and Security Policy. 2014. Ashgate: 13-34. Tem também sido oradora em conferências científicas nacionais e internacionais, colóquios e palestras, para além de entrevistas a media nacionais e estrangeiros. Muito recentemente, foi convidada pelo Ministério dos Negócios Estrageiros para júri da carreira diplomática, do ano 2015.
Para concluirmos, da forma mais positiva, diremos que o nosso eurocepticismo tem vindo a diminuir gradualmente, sendo que terminará de vez quando possuirmos, na realidade, verdadeiros líderes carismáticos.
         Sandra Fernandes trouxe-nos essa esperança!

Saturday, March 28, 2015

LUIS MIGUEL ROCHA (1976-2015)

Luís Miguel da Silva Rocha, de seu nome completo, embora nascido na maternidade Júlio Dinis, na cidade do Porto, no dia 14 de Fevereiro de 1976, veio para Mazarefes (Viana do Castelo), Portugal, muito novo, a ponto de aqui frequentar a Escola Primária. Depois passou dois anos na Frei Bartolomeu dos Mártires e três anos no Monte da Ola, acabando por completar os estudos secundários, 12.º ano, na área das Humanidades, na Escola Secundária de Santa Maria Maior, Viana do Castelo. Ultimamente, andava a concluir a licenciatura em História, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.


Foi aos 16 anos, quando por aqui andava por terras de «S. Simão da Junqueira de Mazarefes», que escreveu o primeiro capítulo daquele que viria a ser, anos mais tarde, os livros Um País Encantado e, posteriormente, publicado com o novo título A Virgem.


Foi operador de câmara na TVI durante um breve período em que trabalhou nas transmissões das missas desse canal, sendo de realçar o facto que uma delas viria a ser transmitida na terra que adoptara como sendo sua, Mazarefes.
Depois rumou a Londres onde exerceu funções como guionista, tradutor e, por fim, iniciou-se na actividade literária. Começou com Um País Encantado em 2005, mas o sucesso internacional chegou com O Último Papa que percorreu o mundo e o tornou no primeiro escritor português a ser bestseller do prestigiado Top do New York Times. Seguiram-se os livros Bala Santa, A Mentira Sagrada e A Filha do Papa. Com estes livros liderou também as tabelas de vendas no Reino Unido. Infelizmente, não chegou a concluir aquele que seria o seu próximo livro, A Resignação.


Em 2012, Mazarefes, espaço temporal que ele ajudou a colocar no mapa internacional, prestou-lhe uma singela homenagem, através da Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes (ASCDCPM), ao atribuir-lhe o título de Cidadão de Mérito Cultural. Humilde significado para a dimensão universal de um grande escritor, mas que deu testemunho da profunda gratidão das suas gentes. Nesta humilde e pacata freguesia, do Norte de Portugal, ficará a sua última morada, local onde repousará o sono eterno, e do qual a Autarquia Local prometeu, em discurso de circunstância, tudo fazer para que seja um local de culto, um marco, um templo das Letras, da universalidade, dos seus milhões de leitores que tem espalhados por todo o mundo.


Momentos, vivências, espaços e passos comuns, que ficarão na memória do tempo que está para lá dos tempos. Dia 27 de Março de 2015, dia da despedida do espaço temporal, físico, patamar de suspeição da inexistência do tempo, creditando as nossas capacidades cognitivas viajando no próprio "tempo", movimento através de um espaço contínuo. No dia anterior, 26 de Março de 2015, Luís Miguel Rocha atingira o "parinirvana", aquela dimensão em que se dá a extinção das dez máculas (desejo, ódio, erro, orgulho, especulação, cepticismo, torpor mental, agitação, impudor, inconsciência) e dos cinco grupos de existência (corporalidade, sensações, percepções, formações mentais, consciências). Perdoa-nos amigo/irmão Luís Miguel, dado que nos agrada mais falar assim que vivermos atormentados pelo torpor da morte.
Até sempre Luís Miguel Rocha. Jamais te esqueceremos!


Friday, March 20, 2015

«40 imagens para Abril» em exposição comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril!...

«40 artistas partilham os seus olhares, as suas críticas, as suas esperanças. Para uns, o cravo de Abril perdeu o viço, a cor, a pomba da paz jaz acorrentada e moribunda, a nova geração de Abril engorda sebosamente e afoga-se no próprio vómito.»

Maria José Guerreiro 

No pretérito dia 14 de Março de 2015 (Sábado), foi inaugurada, em Viana do Castelo, uma exposição comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, e que estará patente ao público, nos baixos dos Antigos Paços do Concelho, à Praça da República, até ao dia 12 de Abril do corrente ano. Parafraseando João Paulo Cotrim, «quarenta anos depois, e a convite da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desafiámos outros tantos ilustradores, esses mestres do efémero, para reinterpretar os ícones que ficaram como tatuagem daqueles meses febris. Reinterpretar sem constrangimentos, como quem regressa a um testo clássico para o reler e trazer à cena com os olhos e as mãos de hoje». Em suma, quase que se poderia ficar por aqui, como forma de se exprimir sensações ou sensibilidades, plasmadas nos quarenta quadros dos quarenta artistas expostos. Mas, se o fizéssemos, ficaria no ar, também, uma sensação (nossa) estranha de inoperância observadora e de ingratidão, perante aquilo que nos foi dado observar, porque a custo zero, com a anuência logística e económica da Câmara Municipal de Viana do Castelo, norteada, apenas e só, pelo sentido estético da Arte e da Cultura ao serviço de todos os cidadãos. Tudo ali tão próximo dos olhos de toda a gente…“Pelos olhos dentro”.


A visão do passado, do presente e do futuro, encontra eco na partilha dos olhares dos quarenta artistas expostos, sendo de realçar a bipolaridade geracional, de metade ter nascido antes do 25 de Abril, e a outra metade depois das portas que Abril abriu: Alberto Faria, Lisboa, 1966; Alex Gozblau, Perúgia, Itália, 1971; Armanda Baeza, Lisboa, 1990; Ana Biscaia, Marinha Grande, 1978; André da Loba, Aveiro, 1979; André Letria, Lisboa, 1973; Bernardo Carvalho, Lisboa, 1973; Carlos Guerreiro, Barreiro, 1969; Catarina Sobral, Coimbra, 1985; Cátia Vidinhas, Vila Flor, 1989; Constança Araújo Amador, Porto, 1984; Cristina Sampaio, Lisboa, 1960; Cristina Valadas, Porto, 1965; Daniel Lima, Angola, 1971; Emílio Remelhe, Barcelos, 1965; Esgar Acelerado, Póvoa do Varzim, 1968; Filipe Abranches, Lisboa, 1965; Gémeo Luís, Maputo, 1965; João Fazenda, Lisboa, 1979; João Lucas, Lisboa, 1964; Jorge Nesbitt, Lisboa, 1972; José Manuel Saraiva, Porto, 1974; Júlio Dolbeth, Angola, 1973; Lord Mantraste, Caldas da Rainha, 1988; Manuel San Payo, Lisboa, 1958; Maria a Miserável, Leiria, 1986; Marta Madureira, Porto, 1971; Marta Monteiro, Penafiel, 1973; Miguel Rocha, Lisboa, 1968; Nuno Saraiva, Lisboa, 1969; Pedro Brito, Barreiro, 1975; Pedro Cavalheiro, Lisboa, 1961; Pedro Lourenço, Lisboa, 1976; Pedro Proença, Lubango, Angola, 1962; Ricardo Castro, São João da Madeira, 1978; Rui Rasquinho, Lisboa, 1971; Rui Silvares, Viseu, 1963; Sebastião Peixoto, Braga, 1972; Susa Monteiro, Beja, 1979; e, Tiago Albuquerque, Lisboa, 1982, acalentando a esperança de Abril permanecer como uma porta aberta para o futuro.


Tiago Manuel, com a conivência de Maria José Guerreiro e Rui A. Faria Viana, mentor persistente de trazer a Viana do Castelo qualidade dos melhores entre os melhores, fez-nos percorrer, quadro a quadro, autor a autor, reinterpretando sem constrangimentos aquela extraordinária «Colecção de cromos», pronunciada alegoria de João Paulo Cotrim, quando se referia aos artistas e às suas obras: «A ilustração é uma arte que consegue condensar num fósforo todo o fulgor de uma ideia, de um acontecimento, e fazer arder tudo em símbolo, em metáfora, em desenho e cor». Tudo tão bem explicado, por vezes, de uma forma bem-humorada, pelo nosso guia de circunstância – dado que outro não poderia ser –, Tiago Manuel.
Obrigatoriamente, uma exposição a visitar.
         NOTA MÁXIMA!

Friday, March 06, 2015

A verdade dos prémios literários, o poder das palavras, a liberdade e o silêncio, debatidos nas «Correntes d’Escritas»!...

«A verdadeira história da humanidade foi e continua a ser a literatura.»

Almeida Faria


Apesar da multiplicidade temática nas «Correntes d’Escritas» deste ano, quase que a poderíamos agregar, reduzindo-a às seguintes palavras: literatura, liberdade, prémios, poder, narrativas, escrita, silêncio, memórias, inteligência invisível e vida. Daí, termos conjugado essa multiplicidade, pela abrangência, disponibilidade e lado afectivo aos escritores, assistindo apenas a dois painéis: MESA 2: “A verdade dos Prémios Literários: O Poder das Narrativas e/ou As Narrativas do Poder” (em colaboração com o Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho) com Ana Luísa Amaral, Ana Paula Tavares, Germano Almeida, Inês Pedrosa, Isabel Pires de Lima e Manuel Jorge Marmelo, sendo moderadora Ana Gabriela Macedo; MESA 3: “O poder das palavras faz-se de liberdade e silêncio”, com António Cabrita, Clara Usón, José Mário Silva, Manuel Gonzaga e Vergílio Alberto Vieira, sendo moderador Michael Kegler.
Começando, de uma forma aleatória, pelo segundo tema, o qual achamos, deveras, interessantíssimo, sentimos, pelas excelentes intervenções, que muitos de nós fomos educados no silêncio e os poderes do silêncio podem ser devastadores, sendo que a nossa relação com o silêncio está viciada e não existe silêncio sem contacto (António Cabrita), e, por outro lado, o silêncio pode ser comunicação sem mensagem e um acto de esvaziar; um desejo que nos pode libertar de sarilhos; um poder maldito sobre os corpos e consciências, quando “silencioso e furtivo como um ladrão” (Clara Usón) – ou no dizer de Manuela Gonzaga, quando aparecem “a palavra e o silêncio como opressores da liberdade” –; e, “sem o silêncio não há palavras, dado que as palavras não combatem o silêncio, porque nascem dele” (José Mário Silva). Uma nota positivíssima para Vergílio Alberto Vieira, quando resolveu trazer à coacção Ludwig Wittgenstein e Friedrich Nietzsche, lembrando a liberdade, o silêncio e o poder da palavra, passando pela ética política, rematando com um esplendoroso momento, diríamos até comovente, em que homenagearia o compositor grego Iánnis Xenákis (1922-2001), ferido por um obus, em Janeiro de 1945, onde acabaria por perder um olho e lhe desfigurou parte do rosto. Em 1946 finalizou os estudos de engenharia, mas foi perseguido e condenado à morte devido ao seu activismo político, fugindo para França em 1947. Estabelecido em Paris, em 1948 ingressou no estúdio do famoso arquitecto Le Corbusier, como engenheiro calculista. Em 1956, publicou sua teoria da música estocástica, baseada na teoria dos jogos de John von Neumann, entre outras fontes. Seu livro “Formalized Music: Thought and Mathematics in Composition” é considerado como um dos mais importantes trabalhos teóricos sobre música do século passado. A “música está presente no silêncio” (Manuela Gonzaga). Há momentos em que a música ou um livro, valem tanto como uma vida humana, qual fénix renascido das chamas que os consomem.
 

Passando, agora sim, ao primeiro tema, teremos em dizer que foi uma sexta-feira maravilhosa, onde apreendemos a noção clara de que “está-se escritor, não se é escritor” (Mia Couto, citado por Ana Gabriel Macedo) e que a escrita “existe para além dos prémios (…). Os prémios literários não são uma verdade, nem narrativas de poder”. Quem escreve, “escreve para encontrar um sentido para si e para a vida”, acrescendo à circunstância de os prémios “apenas representam a forma como se recebe e se é recebido no tempo” (Ana Luísa Amaral). De facto, foi bom ouvirmos, entre muitas outras revelações cognitivas, que as “correntes” são decorrentes numa cadeia de afectos e que o prémio “fez explodir o império” (Ana Paula Tavares), a escrita existe separada dos prémios e “não significa que o termos ganho um prémio sejamos melhor que os outros”, pois, circunstancialmente, a atribuição dos prémios depende da identificação do júri, em termos empáticos, com o texto que o mesmo está a avaliar, não devendo ser considerado como algo discriminatório para com os não premiados (Germano de Almeida). Ou, ainda, os “prémios respondem a uma necessidade de inventar escritores. Não há prémios puros, mas, na verdade, é importante haver prémios literários. Os prémios literários valem o que valem, mas são importantes para a legitimação da literatura”, procurando, ao mesmo tempo, “provocar o ruído mediático em torno do livro e do autor com o objectivo de proporcionar um maior número de vendas” (Isabel Pires Lima). Viemos de lá mais esclarecidos, principalmente quando ouvimos da boca de Manuela Gonzaga que muitas vezes “pensamos que estamos acordados, quando na verdade estamos a dormir. A liberdade não é um dado adquirido. Só há liberdade, quando o poder e a palavra se articulam na liberdade da criatividade”. Daí, aceitarmos a graciosidade de Manuel Jorge Marmelo, quando afirmou estar ali “no papel de um sonhador nostálgico”, um sonho misturado com uma semiconsciência: “As correntes dão-nos muito mais que os prémios literários” – disse.
      A partir deste dia, sentimo-nos cada vez mais seguros no nosso percurso de criadores independentes, quando nos foi dado saber que “ninguém está imune ao poder” (Inês Pedrosa), em tempos em que há prémios para tudo, mesmo para “inventar escritores”. Razão teve Schiller quando um dia escreveu que «o homem que se domina a si mesmo, liberta-se de um poder que o acorrenta, e que escraviza quase todas as pessoas». E é nesse sentido que todos nós deveríamos caminhar, quando pensamos “estar” como escritores, dado que o “ser” depende das máquinas do poder!